Henrique VIII, o inventor da Inglaterra

Jornal O Norte
Publicado em 14/07/2009 às 12:08.Atualizado em 15/11/2021 às 07:04.

Felippe Prates



Há 500 anos, em 24 de junho de 1509, subiu ao trono uma dos mais polêmicos e influentes reis europeus.  Tão poderoso e controvertido que até hoje historiadores discutem o alcance de seus atos. Seu nome se tornou sinônimo de busca a qualquer preço pelo poder. Henrique VIII criou uma religião, reformou instituições e é lembrado, ainda, pelas suas mulheres, duas delas decapitadas a seu mando.  Para pesquisadores britânicos Henrique VIII criou o próprio espírito inglês.  Hoje, quando o seu legado é  revisto ele não será sempre lembrado apenas como um tirano.  Sua herança, sobreviveu à passagem de cinco séculos.



Não faz muito tempo o Vaticano liberou um documento secreto guardado a sete chaves durante séculos: o pedido de anulação do casamento de Henrique com sua mulher, a católica espanhola Catarina de Aragão.  Como se sabe, a anulação foi negada e Henrique então rompeu com a Igreja Católica, anulou ele mesmo a união e se casou com Ana Bolena.  O documento é peça chave para entender a formação do chamado espírito inglês, afirmam pesquisadores.  Segundo o historiador David Starkey, trata-se do mais importante acontecimento da história inglesa.  Starkey, considerado o mais especialista em Henrique VIII é curador de algumas das mostras mais importantes realizadas este ano na Inglaterra, focalizando o rei e seu reinado.



- Nesse momento a Inglaterra deixa de ser um país católico europeu normal e segue por um caminho estranho.  Esse caminho a levou ao Atlântico, ao Novo Mundo, ao protestantismo e ao euroceticismo, disse Starkey ao jornal inglês “The Independent”.



O livro “The Stripping of de Altars”, de Eamon Duffy, da Universidade de Cambridge, revela que o catolicismo era amado pelo povo inglês.  “Poucas pessoas estavam interessadas no protestantismo.  Mas, como a história é escrita pelos vencedores, a versão que consagrava o protestantismo triunfou”, afirmou Starkey.  Ele acredita que o protestantismo jamais teria criada raízes na Inglaterra, se a nova religião não tivesse sido imposta por um rei cuja política se alicerçava na brutalidade e que não hesitava em mandar decapitar qualquer um que dele discordasse!



De onde se conclui que nessa época discordar do rei não fazia bem para a cabeça...



Henrique VIII teve seis esposas e duas delas morreram decapitadas por ordem dele, além de um cardeal, quatro membros importantes da corte, seis amigos íntimos e vários membros da Igreja Católica.  Tudo em nome da manutenção do poder.



Mas, historiadores independentes acreditam que os seus conhecidos seis casamentos, nada mais eram do que uma busca desesperada por herdeiros do sexo masculino e que o rei, em algum momento, mostrou-se romântico e que também soube ouvir os apelos do seu coração... Assim, um documento inédito é a carta de amor de Henrique VIII para Ana Bolena.  Porém, uma vez casado com Ana achou que estava sendo traído e mandou decapitar a esposa.  Ele herdou do irmão mais velho, Arthur, o direito ao reino e à rainha, pois se casou com a viúva, Catarina de Aragão, com quem teve uma filha, que um dia viria a ser a rainha Maria I. Como Catarina não lhe deu filhos homens, dela se separou, evento que resultou no rompimento com a Igreja Católica.  Casou-se, então, com Ana Bolena, por quem estava de fato apaixonado.  Mas esta, também, só lhe deu uma filha, a futura rainha Elizabeth I.  Depois que matou Ana Bolena, Henrique se casou com Jane Seymour que, finalmente, lhe deu um menino!  Jane morreu de parto e o filho, o príncipe Eduardo I, que possuía saúde debilitada, reinou por apenas seis anos, morrendo ainda na adolescência, aos 16.



O rei viúvo que tinha um fraco por casamentos, uniu-se a protestante alemã Ana de Cleves, mas não durou muito tempo anulou o casamento, alegando que essa Ana era muito feia, substituída pela jovem e muito linda Catarina Howard, que o traiu com um camareiro e, ambos, por ordem do rei que, realmente não gostava de chifres, morreram decapitados.  A última esposa de Henrique VIII foi Catarina Parr, uma viúva protestante muito rica, que se tornou a rainha viúva.



Henrique VIII reinou até 1547, morreu aos 55 anos, com o corpo marcado por úlceras e severamente obeso, a ponto de mal conseguir se movimentar. Cheio de inimigos, foi um obcecado por garantir sua dinastia e criar uma nova identidade nacional.



Também é verdade que o seu reinado ficou marcado por uma série de medidas incentivando a unidade da Inglaterra e seu povo, a começar pelo bom relacionamento com o parlamento, que se tornou muito mais forte do que à época de seu pai, Henrique VII.



Na exposição atualmente em cartaz na British Library, em Londres, segundo o jornal “The Guardian”, não há particular interesse em tirania, horror e sangue.  Henrique foi o homem que realmente inventou a Inglaterra, como atestam inúmeros documentos dessa exposição, muitos deles inéditos, retratos, mapas e outros objetos que constroem a imagem de um jovem e belo príncipe, que, numa lamentável faceta, se transformou num rei física e moralmente decadente.



Vale a pena visitar a exposição da British Library que fica em cartaz até 6 de setembro.  “On line”, o endereço é:  http://www.bl.uk/henry.



Fontes:  Jornais londrinos “The Independent”,


“The Guardian”


Enciclopédia Britânica.

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