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Sexta-Feira,20 de Setembro

Habemus time

Jornal O Norte
08/12/2009 às 09:08.
Atualizado em 15/11/2021 às 07:19

Georgino Neto

Foi de emocionar. Extasiado, acabo de chegar do Ginásio Tancredo Neves (que o ranço do futebol atiça uma vontade danada de chamar de Tancredão). Pois bem, foi lá no Tancredão que me emocionei profundamente esta noite. A estréia do Funadem/Montes Claros me fez vibrar a alma de sincera alegria. A sensação de torcer apaixonadamente por um time é algo inexplicável.

Na verdade, é impossível descrever tal sentimento. Simplesmente não se coloca no papel tamanha energia. No início, cheguei tímido. Sequer iria ao jogo. Conhecer o Talmo me obrigou a tomar a direção oposta. Uma pessoa iluminada, mesmo; fui torcer pelo Talmo, e obviamente pelo time de vôlei da minha cidade. Só não esperava encontrar uma legião de guerreiros. Se torcer por um time é saboroso, torcer por um time que mereça o nosso amor é melhor ainda.

O ginásio estava lindo. A reforma realmente tornou-o muito atraente. Mas devo admitir que ornado por alguns milhares de corações pulsando numa mesma sintonia fez o ambiente especial. Uma ressalva: tinha cá pra mim que as pessoas da minha cidade não se interessavam, e nem entendiam muito dos meandros do vôlei. Me enganei feio. Se não estava lotado (o que é difícil, pela sua dimensão), o ginásio apresentava um aspecto de casa cheia. Mas o que me surpreendeu nesta noite mágica foi o comportamento da torcida. Vaiando, aplaudindo, berrando, xingando, se desesperando, apoiando. Tudo na hora certa. Sem perder o tom, ou melhor ainda, dando o tom. E se a torcida me surpreendeu lindamente, o time me encantou. Me encantou pela fibra, pela raça, pela vontade e desejo de vencer.

Confesso que senti neste time a gana que anda faltando ao meu clube de futebol do coração. Não se entregar, na situação mais adversa possível, é de encher os olhos de lágrimas e a alma de orgulho do mais acanhado torcedor. Tudo isto possibilitado pela onda (boa onda) de esporte que impacta a cidade.

Na impossibilidade de elogiar nominalmente todas as pessoas envolvidas e responsáveis por este movimento, o faço na postura da nova administração municipal, amparada pela iniciativa de nobres cavalheiros da nossa sociedade. Só no esporte vivenciamos tão fortes e antagônicos sentimentos. Não quero cair no discurso redentor do esporte, que muitos ingenuamente adotam. Este que só o esporte salva, que o esporte livra das drogas, faz bem à saúde, educa, etc, etc, etc.

Esporte sem saúde pública de qualidade não vale nada. Sem saneamento básico, o esporte não faz sentido. Uma educação pública ruim não pode ser mascarada pelas benesses do esporte. Sou daqueles que crêem que tudo é prioridade, quando se trata de política e gestão pública. Mas cá entre nós: adotar a linha de ataque a este investimento do esporte na cidade, além de burrice, me soa como recalque. Digo isto porque tenho lido alguns comentários de sujeitos raivosos alegando que a política do pão e circo foi adotada pela administração. Hipocrisia pura.

Como estudioso do lazer, bem sei que esta política “panis et circenses”, adotada originalmente pelos romanos antigos, visava distrair o povo, alimentando-o e divertindo-o. Com o tempo, o Ocidente fez questão de aperfeiçoar esta tática política, com o agravante da ausência do pão, em muitos casos. Mas não vejo a valorização do esporte pela atual administração neste sentido. E digo mais: se o que vivi nesta noite foi deliberadamente articulado como circo, parabéns. Depois de muito tempo, temos a oportunidade de um circo feito com competência. Onde o espetáculo respeita a platéia, tão carente de emoção.

Por fim, desconfio que o circo sempre existiu, por estas (e outras) plagas. A diferença é que os que agora atiram a pedra, correm o iminente risco de assumir o papel de palhaços. Hoje não tem marmelada, não senhor. Em tempo: antes que algum palhaço hipócrita diga alguma coisa, este texto não traz nenhuma pretensão política. É apenas a expressão sincera de um espectador apaixonado pelo espetáculo vivenciado em uma noite bonita. Não perco mais nenhuma partida do meu time de vôlei, eleito pelo amor à minha cidade e ao esporte. Pela admiração ao Talmo e aos jogadores. Apenas isto.

Já ia me esquecendo: o meu time perdeu por 3 sets a 1. Mas confesso que isto não tem a menor importância.

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