AUTOBIOGRAFIA
Nasci no dia 15 de agosto de 1908 na cidade baiana denominada Riacho de Santana, na fazenda do meu avô duas léguas daquela cidade.
O meu pai se chamava José de Souza Guedes e minha mãe Durvalina Fernandes Guedes.
Como todo menino do interior, tive uma infância feliz e cheia de peraltices: tomando banho de poço, caçando passarinho e matando aula pra vadiar. Mas, cedo ainda percebi que já tinha as minhas tendências artísticas, tanto é, que aos dez anos de idade recebi como presente de meu pai uma caixa de lápis de cor, e comecei a desenhar paisagens. Aos doze anos eu já tocava cavaquinho e nesta época fiz um violão. Sempre aprendi tudo sozinho, talvez porque eu seja curioso e criativo. A única coisa que não aprendi sozinho foi o conhecimento de farmácia.
Aos quatorze anos comecei a trabalhar numa farmácia. Antigamente os medicamentos eram preparados pelos próprios farmacêuticos e toda informação vinha em francês.Devido as circunstâncias e necessidades tive que aprender a ler e traduzir tudo. Estive nessa função durante onze anos.
Tudo que eu faço é por prazer, não faço nada que não me satisfaça.
O trabalho de pintura e de musica me foi paralelo sempre. Comecei a dominar os pinceis já antes dos quinze anos, lá em Santana, em 1923. O meu primeiro trabalho foi o “Nosso Senhor Bom Jesus da Lapa”, trabalho feito a óleo que se encontra na cidade do mesmo nome, no Estado da Bahia.
Em Santana formei um conjunto de jazz com o nome de G. GUEDES E SEU CONJUNTO, fizemos muito sucesso e tocávamos sempre de graça. O interessante é que todo o instrumental de percussão e alguns outros, como o violão, foram criados por mim. Os componentes do conjunto eram: Flavio Aguiar, Julião Junior, Francisco Guedes, Olimpio Guedes e eu naturalmente. Esses dois últimos meus irmãos.
Mudei para Montes Claros em 1935. Para ganhar o pão eu pintava tudo: placas, letreiros, fachadas e quadros. No setor musical comandava um conjunto que enchia as noites boêmias dos cabarés granfinos da época aqui em Montes Claros.
Entre 1935 e 1936, fui morar em Monte Azul para colocar ali uma farmácia, gostei da cidade, mas os negócios não foram bem. A maioria das minhas músicas foram feitas lá, talvez devido ao meu insucesso, por estar longe da terra natal, a sensibilidade aguçada me conduzindo para a real aptidão minha. Foi então que voltei para Montes Claros.
Morei também em Belo Horizonte onde juntamente com outros artistas, iniciamos a feira de artes na Praça da Liberdade. Foi então que um amigo me fez voltar para Montes Claros. Eu tinha poucos amigos em Belo Horizonte e grandes amigos em Montes Claros, como Constantino, e foi ele que me disse: “Homem, se você morrer em Belo Horizonte, ninguém vai ao seu enterro, mas aqui em Montes Claros é capaz de parar a cidade”.
O meu instrumento preferido é a clarineta, gosto de qualquer música popular brasileira, principalmente o chorinho. A minha melhor musica e que fez mais sucesso foi Cantar.
Gosto de preparar eu mesmo as minhas tintas, mais por motivo econômico. O melhor quadro que pintei o foi o retrato do pai de Constantino e o de João Maurício.
Considero-me realizado, tanto na pintura, quanto na musica. Já nem sei quantos quadros pintei, talvez mais de 3.000 e umas 60 musicas.
A minha maior gloria e ter quadros em quase todos os lares montesclarenses, e a minha maior emoção, alem do casamento foi no dia que recebi o titulo de cidadão honorário de Montes Claros em 1947.
Comecei a compor em 1931, no mesmo ano em que casei com Julia. Ela é e sempre foi a minha companheira das horas felizes e tristes, com 08 filhos, Terezinha, Neuza, Dolores, Helio, José, Maristela, Lucia e Beto, sou hoje o homem mais feliz do mundo.
G.Guedes
Ref: acervo Coordenação Centenário GG e CELF
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