Railda Botelho
Tem sido sempre assim...
Preciso abrir gavetas logo de manhã, pra começar o dia.
Gavetas normais, cômodas, armários, e criado-mudo, onde busco minhas coisinhas de mulher.
Mas, e a infalível gavetinha virtual?
Esta não pode faltar de jeito nenhum, afinal, é o meu cantinho particular, na Internet.
Não tem jeito, tem sido assim há um monte de tempo.
Já não sei começar um dia útil sem antes me aventurar nesse mais novo brinquedinho de nerds cibernéticos.
O tempo passa, e lá estou, anestesiada, diante da área de trabalho, onde um ratinho simpático e veloz me convida a girar letrinhas, em meio à minha curiosidade quase infantil pra ler e responder e-mails.
Quem será dessa vez o meu mais novo amigo virtual?
Mas quem é que ainda, não se rendeu a esse vicio, será que dar pra atirar a primeira pedra?
Afinal, a cada dia, a cada hora, são criados milhões de endereços eletrônicos, e uma enxurrada de besteirol chegará fatalmente aos nossos blogs pessoais.
Servidor não encontrado, site proibido, erro ao digitar senha, memória cheia... meu Deus!
Quantas vezes me perco nessa confusão de ferramentas que pulsam o tempo inteiro pela rede, me embaraçam a vida, e me fazem perder uma eternidade?
São montanhas de disquetes esquecidos, e CDs arranhados, que me levam a perder a paz, sem antes assombrar-me frente aos impactos causados pelas tecnologias.
Aproveito, entre uma tecla e outra, pra entrar na sala de bate-papo, e penso em trocar de par, afinal navegar é preciso, e na net é bem melhor, você muda de gosto como quem troca de roupa, mesmo que por pura falta de opção.
Tenho saudades de um tempo em que tecnologias, se surgissem, assombravam as crianças, eu mesma sou testemunha ocular e de corpo presente quando tomei um tombo daqueles com medo de um liquidificador que fizeram funcionar pela primeira vez, lá em casa.
São lembranças assim que me fazem escancarar gavetas, da Internet e da vida, só pra aproveitar o tempo perdido.
Mas o dever me chama a postar, a tc, a teclar...
Até parece um jeito estúpido que arrumei, pra desopilar o fígado, esquecer mazelas, afogar as dores, e já que estou doente pelo vício, e assim condenada, me deleito com https, wwws e ponto coms.
Acho que vou botar um blog no ar, aí eu quero ver quem é que vai me criticar só porque virei amante de uma caixinha silenciosa e perigosa que às vezes beija, às vezes bate, às vezes chora, às vezes ri dessa minha cara de pau, por me deixar assim levar, pelas tais caixinhas virtuais.