Luís Alberto Caldeira
Jornalista
A Globo e a Band disputaram na noite de quinta-feira, 05, a audiência do telespectador com a transmissão ao vivo de dois importantes eventos: a semifinal da Taça Libertadores da América e o primeiro debate entre os principais candidatos a presidente das eleições 2010. O resultado: venceu o futebol. E por goleada.
De acordo com dados do Ibope divulgados no dia seguinte pela imprensa nacional, o jogo Inter x São Paulo registrou 36,9 pontos para a Globo. Muito atrás, com o debate, a Band manteve uma média de 1,8 a 3 pontos, com pico de audiência de 5,5.
Deve-se levar em consideração que a medição é feita na Grande São Paulo - onde mora a maioria dos torcedores do tricolor paulista - e nunca acreditei que a ditadura destes números que dividem as fatias do mercado publicitário televisivo e que movem a programação das emissoras seja um reflexo da audiência do país inteiro, de dimensões continentais.
A preferência pela Globo, como se fosse a TV oficial do Brasil para ser o canal exibido em botecos, padarias e restaurantes chiques, e a sua qualidade de seu sinal analógico até mesmo em lugarejos distantes, são características que dão à emissora dos Marinho uma vantagem para sair na frente. E podemos também encontrar uma desculpa que o brasileiro ainda não se esquentou para a campanha política deste ano. Mas, de qualquer forma, o desempenho ínfimo da Band na medição do Ibope preocupa ao pensar que, para muitos, o futebol é mais importante do que decidir o futuro do Brasil.
FERNANDO BORGES/TERRA
Participaram do debate na Band José Serra (PSDB), Marina Silva (PV), Dilma Rousseff (PT) e Plínio de Arruda Sampaio (PSOL). Em sua maior parte, ficou polarizado pelo embate Serra x Dilma. O tucano alfinetou a candidata petista com assunto que mais tem intimidade para falar: a saúde. Ficaram até chatas suas cobranças pelos mutirões nesta área que deixaram, segundo ele, de ser realizados por Lula. Do outro lado, Dilma por várias oportunidades, tentou igualar a imagem de Serra com o governo FHC. Marina, apesar de segura, não conseguiu transmitir bem seu plano de governo. Quem roubou mesmo a cena no debate foi o candidato Plínio de Arruda, peitando seus adversários fazendo graça, o que lhe fez cair no gosto do internauta. No Twitter, seu nome ficou entre as expressões mais comentadas pelos usuários daquela rede social.
Por falar nisso, os twitteiros também reclamaram da ausência de outros candidatos nanicos no debate. Uma campanha virtual chegou a ser realizada pela ida de Zé Maria, mas o candidato do PSTU não foi convidado pela emissora, que se valeu da lei que não obriga a chamar candidatos cujos partidos não tenham representação na câmara dos deputados. É mais um tiro na democracia, que não dá a todos os candidatos igualdade de tempo na TV e de publicidade nas ruas. No Brasil, ganha-se eleição quem tem mais dinheiro para gastar e costuras partidárias, sem ideologia, interessadas somente na divisão de cargos, secretariados e ministérios.
E enquanto o voto por aqui não for facultativo, vai faltar interesse por política e sobrar votos automáticos para os "famosos" de sempre. E se não mudam os políticos, o país também não muda. Se nada muda mesmo, "eu vou assistir futebol".