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Sábado,11 de Janeiro

Flores da Páscoa

Jornal O Norte
Publicado em 11/03/2008 às 10:27.Atualizado em 15/11/2021 às 07:27.

Luiz Carlos Amorim


Escritor e editor


http://br.geocities.com/prosapoesicaecia



Está chegando a Páscoa e me preparo para mais uma viagem ao Rio Grande do Sul, já um hábito nesta época. Não vou pela BR 101, porque depois de Palhoça ela está em obras, e nesses feriadões é um caos. Segundo porque gosto de ir por Lages, pois o caminho é lindo, as estradas são mais sinuosas, mas tem serra, tem campos, cidades, tem de tudo.



E tem jacatirão, aquele que floresce nesta época e que chamamos de “quaresmeira”. Diferente do jacatirão nativo do litoral e de outras partes do Brasil, que florescem no final da primavera e ficam coberto de flores até o auge do verão, a quaresmeira tem as pétalas menores, mas é mais colorida. E podemos vê-la a partir de Rancho Queimado,  pertinho de Florianópolis, e na continuação em Alfredo Wagner. E depois, quanto mais para o sul, mais os jacatirões – ou quaresmeiras - aparecem. Coloridos, alegres, majestosos, acenando para a gente seus galhos tingidos de vermelho, a nos lembrar que a beleza descompromissada, natural e verdadeira existe e está aí, para quem quiser e souber ver.



Observando as aparições dessas flores, dei-me conta de um fato interessantíssimo, que aumentou a minha fé na natureza, coisa que nós, homens, deveríamos ter muito mais, para cuidar melhor desse mundão de Deus que insistimos em maltratar: a flor do jacatirão nativo está no auge no final de dezembro, quando nasce um Menino, o filho do Criador, que veio para ser homem e mostrar-nos o caminho do bem. O jacatirão enfeita a chegada daquele Menino, que nós, homens, viríamos a crucificar quando ele estivesse adulto, e que ressuscitaria em seguida para voltar ao Pai. E nesta época também o jacatirão está presente, solidário com aquele Menino-Homem, proclamando uma esperança que precisa existir.



A constatação da fidelidade dessa flor singela e generosa me fez admirá-a ainda mais. Já me cognominaram de “poeta do jacatirão”, por ter como tema preferido essa árvore e suas flores em meus poemas e minhas crônicas. O que acontece, simplesmente, é que eu consigo vê-las, sempre. E falo delas para que todos possam desviar sua atenção para elas, olhar e vê-las. Para descobrir a sua beleza e toda a paz e toda a alegria que podem gerar uma felicidade simples e verdadeira. Beleza que volta sempre, em todas as primaveras, em todos os invernos, em todos os Natais e em todas as Páscoas. Mas é preciso olhar e ver. É preciso aprender a olhar para ver. Senão as flores do jacatirão, como tantas outras coisas, passam diante dos nossos olhos e não conseguem adentrá-los.

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