Festas de agosto: o que eu vi - por Márcia Vieira

Jornal O Norte
10/09/2008 às 11:00.
Atualizado em 15/11/2021 às 07:43

Márcia Vieira


Jornalista e filósofa 


 


Domingo chega e com ele, o fim das “Festas de Agosto”, que encheram nossos olhos e nossa alma por cinco dias. Cinco dias de beleza, de encantamento, de emoção. Todas as cores presentes, desde o branco puro e imaculado dos catopês até o preto, que surgia nos lacinhos colocados nas roupas dos caboclinhos, que ainda choram a morte do seu chefe Joaquim Poló. É apaixonante ver desfilar pelas ruas as crianças (uma delas inclusive usando um andador), os jovens, meninos e meninas, e senhores de cabelos brancos que em nenhum momento dão sinal de cansaço.

A pureza do mestre João Faria, que foge das entrevistas, o Mestre Zanza, que de bravo só tem a aparência e perguntado sobre a origem do seu apelido responde a uma criança “é porque eu só fico zanzando!”. Tem ainda o semblante terno e acolhedor de dona Fina de Paula, viúva de Dr. Hermes, acomodada numa cadeira de rodas, mas presente todos os dias na avenida, o dinamismo de Raquel Chaves, empenhada e sempre solícita com os participantes da festa, finalizado com um sorriso e a pergunta: “foi lindo, não foi?”.

Tem o menino Paulo Estevão explicando que há 13 anos participa da festa e dando uma aula sobre a florescência dos ipês, o seu Zezinho do Sesc, que aos 99 anos aparece todo alegre e afoito, assoviando para as moças que passam pelo caminho. Tem o Tonhão (ou Tonão), que Paulinho Narciso aponta como uma das grandes figuras dos catopês, tem crianças que passeiam segurando suas fitas à cata de padrinhos e oferecendo ainda três desejos mediante o batismo, como o gênio da lâmpada.

Tem Gabriel Guedes, neto de Godofredo, que vem especialmente para homenagear o avô e participar com os filhos da maior festa de sua terra natal. Tem o Carlyle, que há 25 anos toca o sino da igrejinha anunciando a chegada dos Catopês, Marujos e Caboclinhos. Tem a filha de Joaquim Poló que vem à frente dos caboclinhos, empunhando uma bandeira e dançando com um entusiasmo sem igual, bonito de se ver.

Tem gente pequena no corpo e grande no coração, tem filho da terra e tem estrangeiro apreciando a festa, tem gente que ri e tem gente que chora. Ao longo do percurso, aparecem também os fotógrafos, os escritores, os cinegrafistas, os estudantes que fazem pesquisas sobre a festa, os historiadores, os curiosos. Durante o desfile matutino o comércio pára, pois patrões e funcionários correm à porta de suas lojas para respeitosamente assistir à passagem dos grupos.

A Igrejinha do Rosário, ponto final do desfile e inicial de uma bela cerimônia, é pequena para conter a multidão, que se espalha por toda a Avenida Coronel Prates, onde agora acontece a festa. O colorido toma conta daquela parte da cidade. Existem problemas, sabemos nós. Nem tudo são flores, mas é válida a luta dessas pessoas que não deixam a festa morrer. Espero apreciá-la ainda, por muitos e muitos anos. Agosto já deixa saudade. Deus te salve, festa santa!

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