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Quarta-Feira,14 de Maio

Fely, uma grande e inesquecível dama

Jornal O Norte
Publicado em 04/08/2009 às 10:39.Atualizado em 15/11/2021 às 07:06.

Não seria perdoável não se render todas as homenagens a grande inesquecível montes-clarense, Felicidade Perpétua Tupinambá, que se deu ao exercício da promoção da Educação, do trabalho social em benefício do crescimento, do desenvolvimento. Como intelectual de primeira grandeza, escreveu sobre o desenvolvimento infantil livro  de valor imensurável para professoras primárias conheceram melhor seus pupilos. Deixou também no livro Folhas de Outono, crônicas publicadas com muito êxito.



Diz o ditado popular conhecido e usado pelas pessoas que recordar é viver. Uma grande verdade quando se lembra momentos alegres, felizes como alimento para a sobrevivência, um alento a renovar momentos que o tempo não consegue apagar. Sinto-me feliz, até privilegiada por Deus ter-me colocado, onde nasci, onde me ofereceram o melhor, para sentir a alegria de viver, caminhar guiada protegida por Ele, pela sua Santa Mãe Maria Santíssima, por preciosas amizades, companhias, professores, entre os quais não poderia faltar Fely.



Todos contribuidores  para estimular a minha sensibilidade, meu viver repleto de bons exemplos de valores humanos, que enchem a minha alma, o meu espírito. A todos sou muito grata e certamente os carrego no coração, Da minha boa e rica infância são muitas as lembranças. Gente rica e importantes políticos, gente pobre humilde, insanos, povoaram este tempo onde a porta da minha casa era aberta para todos.



Criança curiosa, peralta, feliz, filha caçula, me proporcionaram um baú de boas lembranças. Desde pequena apreciadora do belo me prostrava assentada no batente da porta principal de minha casa. Lá na praça Dr. Chaves, na casa do antigo mirante, palco de muitas histórias, algumas trágicas e inesquecíveis aventuras. Outras alegres, cômicas de maior e menor importância de acordo com quem as via. A praça era point principal da cidade e onde havia maior numero de sobrados. Um deles, onde por muitos anos nos últimos tempos, viveu a família de Hildebrando Mendes, hoje repartição da Secretaria da Cultura e outros escritórios, foi construído pelo Padre Barbosa e habitado mais tarde pela família Tobias Leal Tupinambá que o comprara.



Ver Jibóia do outro lado da rua, resmungando, brava quando alguns molecotes a irritavam, chamando-a pelo apelido, o que muita a contrariava. Embora fosse conhecida por este nome, nunca se soube do seu nome legítimo. Sentia um certo pesar pelo seu sofrimento e pela falta de respeito pela coitada. Mas me mantinha quieta e amedrontada com a gritaria e xingatório do outro lado da rua. As vezes se fazia necessário a intervenção do guarda do jardim, Henrique Pancinha ou de algum adulto para pararem a confusão. No passeio da minha saudosa casa passavam todos os dias: Belo descendo para a Prefeitura para assinar um imaginável ponto como funcionário que nunca foi.



Circunspecto, vestido a rigor, de terno e gravata. Tudo dado pelos funcionários da prefeitura que gostavam muito dele e não viam nele o menor problema. Postava-se em frente a casa municipal com pose de guarda. Não trazia nenhum problema. Era conhecido e por muitos anos manteve este status. Anos depois o vi maltrapilho andando pelas ruas. Certamente com as mudanças de governos aposentou ou se sentiu fora da dança. Ele gostava imensamente da minha mãe que sempre lhe dava um bom café com pão, biscoitos, quando voltava do oficio já mais relaxado e sem o compasso da responsabilidade do posto. Não me assustava, era íntimo na casa como muitos insanos da cidade.



Também passavam por lá seu Basílio de Paula, pai do Doutor Hermes querido amigo da minha família, funcionário por muitos anos da prefeitura,  e outros como: Evandro Câmara, Cocó que não era funcionário da prefeitura, mas a visitava constantemente. A expectativa maior, verdadeira era a passagem majestosa, da elegante e bela funcionária da prefeitura que aliás mais tarde soube ter sido a primeira mulher por longos anos, nos trabalhos da administração municipal, tendo passado por sete prefeitos. Até que por atendimento a necessidade prioritária foi cedida pelo prefeito Dr. Simeão Ribeiro a serviço do conservatório Lourenço Fernandes, a pedido das fundadoras. Artista que era, lá servia brilhante e honrosamente por vinte e cinco anos. O meu deslumbramento com a figura da mulher que me parecia uma fada e também, por ligação da amizade familiar.



Quis o destino que na adolescência fosse sua aluna. Coisa que me glorifica e enriquece meu currículo. Ainda forte e mantendo o seu charme e beleza que me fascinava e as minhas colegas nos proporcionou um apurado gosto pelas artes, com sua educação, meiguice. De família de artistas não negou a raça. Exímia desenhista dava belas aulas exercitando, ensinando traços que nos causavam admiração.



Esta Felicidade Perpétua Tupinamba, que veio ao mundo para a nossa felicidade na cidade de Montes Claros no dia 20 de Junho de 1909, através de seus pais Tobias Leal Tupinambá e dona Josefina Mendonça Tupinambá. Teve como irmãos os não menos celebridades, cada qual no seu lugar, Maria Josefina Tupinambá, Cassimiro Mendonça, Ruth Tupinambá Graça ( escritora e historiadora), Raimundo Tito Tupinambá e Rui Tupinambá amigo do meu querido marido. Ela desde menina já demonstrava seu potencial de inteligência pouco comum, privilegiada por Deus.



Existe registro no histórico do antigo Grupo Escolar Gonçalves Chaves de Montes Claros, resultado de concurso literário interno como aluna brilhante e vencedora. Caridosa sempre atendia e resolvia problemas para pessoas carentes. Na sua passagem pela prefeitura dava assistência pedagógica às professoras rurais ajudando-as no mister de ensinar.



Também era defensora dos direitos das mesmas. Muitas a devem o estímulo a estudos que as promoveram na profissão. Atuou com destaque o exercício de Secretária Municipal chegando a substituir por mais de uma vez prefeitos. Fely era muito procurada e sempre atenta a problemas sociais, uma verdadeira cidadã na luta pelas causas nobres, tão esquecidas por muitos. No conservatório fez alem dos trabalhos da sua função, o trabalho de voluntária dando aulas de graça  a alunos carentes, dando oportunidades a novos talentos. Fely teve dois grandes amores.



Ainda jovem foi noiva, mas seu escolhido funcionário federal, foi transferido para cidade distante, o que os afastou definitivamente. Mais tarde recuperada, curada, reanimada vive um novo tempo, um novo noivo. Infelizmente ele morre precoce e inesperadamente. Fely se volta para o amor ao próximo, a caridade, a religiosidade, dedicação ao trabalho, a promoção do gênero humano. Será sempre lembrada pelas enormes contribuições dadas a sua terra natal, a região, a humanidade.



Parabéns Fely, que os anjos cantem e comemorem em coro seu centenário ao lado de Jesus, de nossa Santa Mãe Maria Santíssima e dos muitos familiares, amigos que desejamos, gozem junto a você a felicidade, luz eterna.


 


Sua ex-aluna amiga, admiradora


Amélia Prates Barbosa Souto

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