Daura Carvalho
Imagine que você, o ser, é um reservatório. Pense num reservatório de água, por exemplo. Do tamanho que você queira imaginar. E imagine também que esse reservatório está cheio e que existe uma torneira. Todas as vezes que você pensa, fala ou faz alguma coisa é como se você abrisse a torneira desse reservatório. Ou seja, você está utilizando da água estocada. Agora, em vez da palavra água, use a palavra energia, ou força, ou poder. Quando os meus pensamentos, palavras e ações são positivos, eu estou armazenando energia.
Quando eles são inúteis ou negativos, eu estou desperdiçando energia. E quando há uma baixa de energia, eu me sinto fragilizado, triste, desanimado. O hábito de pensar, falar e agir de uma forma incorreta, ou seja, inútil ou negativo, faz com que eu perca tanta energia que posso desenvolver uma doença. As doenças psicossomáticas são o resultado desse tipo de atitude. A reclamação é um hábito negativo e que faz o ser se despotencializar.
Deixe de reclamar. Reclamar do tempo, das pessoas, das situações, do governo, do trabalho é perda de tempo e energia. Em vez de reclamar, alguém que está empenhado na busca do equilíbrio interno, coloca a criatividade a seu serviço e busca métodos para resolver a situação à sua frente. Essa postura exige uma boa dose de maturidade, de flexibilidade e de bom senso.
Se alguém havia programado, por exemplo, um piquenique para o sábado de manhã e logo naquele dia amanhece chovendo. Aquele que tem o hábito de reclamar logo dirá:
- Logo hoje amanhece chovendo. A semana inteira fez sol.
Mas aquele que é criativo nem dá tempo para que um pensamento de reclamação surja. Ele encontra imediatamente uma alternativa:
- Que ótimo! Com chuva, quero terminar aquele livro que comecei a ler e não pude terminar ainda.
Ficar se lamuriando, além de não resolver o problema, cria uma atmosfera muito ruim que pode afetar as pessoas, fazendo-os ficar aborrecidas e impacientes.
As pessoas reclamam porque os acontecimentos à sua frente não são do seu agrado e elas procuram uma razão para esse desagrado. Reclamar dos fatos, pensando no que poderia ser, embaça nossa alegria e nos de impede de manter o equilíbrio interno.
A razão para o descontentamento, motivado pela reclamação, vem de nós mesmos, e não passa de uma ilusão. O descontentamento é uma justificativa de nossa própria ineficácia em trabalhar com os obstáculos. Uma pessoa que tem o hábito de reclamar sempre arranja razões para isso. E essas razões parecem ser perfeitamente corretas para aquele que reclama.
Tudo é uma questão de ponto de vista. Por exemplo, se duas pessoas vão ao banco para pagar uma conta e encontram uma fila enorme. Aquela que tem o hábito de reclamar fica impaciente, resmungando, olhando no relógio sem parar. Enquanto que a outra busca alternativas como a de voltar mais tarde, usar o caixa rápido ou mesmo ficar na fila num estado meditativo, espalhando bons sentimentos. Ela se sente tão confortável naquela situação que nem vê o tempo passar. Afinal, não é possível que uma pessoa encontre, sempre, os bancos vazios.
Reclamar da chuva ou do calor, por exemplo, é falta de bom senso. Uma vez que você não pode controlar o tempo. Repetir frases como ...e esta chuva, logo hoje! Ou: o calor está insuportável... Este comportamento gera um hábito que as pessoas repetem até mesmo sem pensar.
Aquele que é criativo, mesmo em grande dificuldade, não reclamará. Usando seu potencial interno, ele cuidadosamente pensa numa solução para o problema. E no exercício para encontrar a solução, cria mecanismos internos para sair de quaisquer dificuldades. Um problema transforma-se numa chance para elevar a própria capacidade e o que era um obstáculo torna-se um jogo criativo, um quebra-cabeça interessante. Na procura da solução para um problema, constroem-se pontes, programam-se novas ações e sente-se profunda alegria em buscar a solução.
A reclamação não ajuda em nada. Ela apenas impede que se visualize a possibilidade das situações retornarem ao seu curso normal.