Família - por Marcelo Valmor

Jornal O Norte
Publicado em 20/07/2009 às 09:35.Atualizado em 15/11/2021 às 07:04.

Marcelo Valmor


Professor



Um dos fatores que apontam para a forte miscigenação étnica no Brasil, sem dúvida nenhuma, fora a necessidade de se ocupar efetivamente a colônia, sob pena de perdê-la para outros grupos que por aqui já começavam a se estabelecer (franceses, principalmente).



Para tanto, o estímulo a miscigenação foi fortalecido. A partir daí, negros, índios e brancos se amasiaram de tal forma, que hoje, sem medo de errar, repetiríamos a frase de Darcy Ribeiro sobre a sociedade que se estabeleceu por aqui: o Brasil seria a nova Roma!



Esse processo de ocupação via ampliação do setor social por muito tempo ainda fora observado, sendo muito comum em décadas recentes (em torno de 1950/1960). Famílias numerosas eram constituídas sob a batuta do governo federal, para que áreas, ainda não ocupadas, pudessem ser anexadas ao grande processo de formação da nação brasileira. Estamos falando dos dois governos Vargas (1930-1945 e 1951-1954).



Só para ficarmos em um exemplo sobre políticas públicas destinadas a esse fim, citaremos o famoso abono família. Evidentemente que diante das circunstâncias, tal estímulo se tornou desnecessário, fazendo parte muito mais de uma política de reprodução social, do que de complementação salarial.



Você, se não veio de uma família numerosa, deve conhecer, pelo menos, uma. Eu, por exemplo, conheço várias, mas a que mais me marcou, evidentemente, foi a minha.



Na minha casa somos nove. E meu pai, indiferente ao estímulo financeiro (graças à Deus não precisava), fez filhos ainda dentro da concepção getulista de povoar o país.



Se é que existem exceções, todas as famílias numerosas foram constituídas não para expressar a virilidade do macho dominante, mas para atender a um apelo cultural, e porque não dizer, nacional, de ocupação da pátria.



Não esqueço do dia do nascimento do meu irmão mais novo. Quando minha mãe chegou em casa com ele no colo e andando com cuidado (parto normal era uma prática comum), sentamos, todos nós, em volta da sua cama para admirar aquele novo habitante da casa.



Imediatamente perguntei como se chamaria. E ela, pacientemente, pediu para que perguntasse a meu pai. Foi quando saí pelos corredores em pressa para encontrar, satisfeito, e sentado numa poltrona com um cigarro na boca, o provedor da casa.



Tão logo perguntei o nome do irmão mais novo, ele respondeu: - O nome dele é Márcio Valdir Ferreira. E, imediatamente, emendei outra: - E qual será o apelido dele? (todos tínhamos um), e ele respondeu: - Qual é o número dele? – nono, disse. No que ele, balançando a cabeça afirmativamente, concordou. – Então vai ser Nono.



Eu só contei até esse número, mas dizem as más línguas que existiria um décimo. Mas isso aí já é uma outra história...

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