Eu e os sambaquianos - por Luiz Carlos Amorim

Jornal O Norte
Publicado em 18/06/2008 às 10:13.Atualizado em 15/11/2021 às 07:35.

Luiz Carlos Amorim


Escritor e editor


 


Esperei muito para ler “Sambaquis”, de Urda Alice Klueger, que finalmente agora está para ser lançado. E então agora pude lê-lo, e ele é “muito lindo”, como diria a própria autora de alguma coisa pela qual ela ficasse apaixonada, admirada, impressionada.



Mas é muito lindo mesmo. O livro é um poema de amor e ternura, é poesia pura. Urda conseguiu descrever a vida simples e singela de uma gente simples e pura, mas com defeitos, como todo ser humano tem, numa época muito longe da nossa realidade, quando não havia nenhuma comodidade e era preciso que cada um trabalhasse duro, eles mesmos fazendo tudo o que era preciso para sua sobrevivência, para que a comunidade tivesse comida e lugar para morar. Urda captura uma história de amor, sublime paixão entre um homem e uma mulher, há quatro mil anos atrás, quando sexo e casamento faziam parte de uma prática ou tradição essencialmente cultivada para a continuidade do seu povo.



A autora recria a vida das gentes que povoavam os sambaquis da nossa região há muito tempo atrás, com tantas minúcias de detalhes que, saindo das páginas de “Sambaquis”, temos a oportunidade de ir até um sambaqui ou a um museu e encontrar uma peça ou um local que fez parte do cenário dos sambaquianos.



Os sambaquianos de Urda não são criaturas grotescas de uma era perdida, são seres humanos como nós, que apesar de não terem o conhecimento que se tem hoje, não terem os mesmos costumes que temos, viviam em harmonia e eram felizes.



Como já disse, o romance é um poema de amor, escrito com muita sensibilidade e lirismo, coisa bem característica da autora, além de ser uma aula da história sobre as nossas origens. As figuras poéticas, como “Ela espiara para dentro dos olhos dele...” permeiam todo o livro e são umas mais belas que as outras. Original, a história começa com a celebração da morte e termina com a explosão da vida, o nascimento de uma criança.



Fico com vontade de estar na Ilha do Campeche para ver as bacias de polimento, que só as vi, acho, em São Francisco, na Praia Grande. E deu-me vontade de ver de novo as “Flores-que-eram-como-o-sol”, que sou fascinado pelos ipês floridos, flores que vicejaram no romance. Mas não é tempo deles e tenho as flores do Jacatirão, popular manacá-da-serra, para me maravilhar. E até me atrevo a desejar que os sambaquianos também as tivessem, como as temos em todas as estações, para serem ainda mais felizes.

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