Délio Pinheiro *
Consta no livro "Observações médicas doutrinais de cem casos gravíssimos", de 1727, e que foi escrito por João Curvo Semedo, alguns "remédios" curiosos contra o crescente hábito da "bebedice", que assolava as terras brasilis naquela época. Uma dessas medidas era servir ao bebum o "suor dos companhões de um cavalo, quando estiver suado". Companhões são, justamente, os testículos do animal. Estranho? E que tal servir ao ébrio "vinho em que se afogaram duas enguias vivas" ou "vinho em que se misturou um pouco de esterco de homem".
Se essas duas opções pareceram também disparatadas, o que dizer de servir um "copo de vinho em que deitaram uma fatia de pão que estivesse duas horas no sovaco de um agonizante". Pois essas "observações médicas" à cerca dos hábitos da colônia mostram que a bebida sempre esteve presente no dia a dia de nossa história. Basta lembrar que a aguardente brasileira, conhecida por jeribita pelos africanos, foi o principal produto de troca por escravos nas feiras e portos da África central desde o século XVII.
Muito antes de nosso "descobrimento", nossos índios já consumiam o cauim, bebida fermentada, produzida a partir de tubérculos, principalmente a mandioca, e frutas, como o abacaxi.
Não há como não se lembrar de abacaxi e não fazer uma livre associação com o governo Lula, governo esse em que o consumo da jeribita chegou à níveis nunca dantes imaginados.
E nesse assunto, não houve hierarquia que resistisse aos encantos de destilados e fermentados. Lembram do Vladimir Poleto, que foi assessor de Antônio Palocci quando este era prefeito de Ribeirão Preto? Pois é, ele deu uma entrevista bombástica para a Veja na qual afirmava que transportara milhões de dólares doados pelo governo cubano à campanha do presidente Lula em 2002. E depois, já inquirido por uma CPI, ele disse que estaria alcoolizado no momento da gravação da entrevista. Essa mesma justificativa talvez também se aplique à entrevista de Silvio Pereira ao Globo, na qual ele falou do plano malévolo do PT de juntar 1 bilhão de dólares com o propósito de eternizar a estrela branca do partido no governo. E depois, diante da CPI, ele disse que não lembrava que tinha dito certas coisas, que não sabia mais quem ele era, que não sabia quem tinha pintado a zebra mas que queria ficar com o resto da tinta, ou seja, que não se lembrava de nada. Só faltou pedir a saideira lá mesmo, diante dos nobres parlamentares.
E quanto aos excessos etílicos do presidente Lula, descritos a uns dois anos atrás, que, segundo o jornalista Larry Rother, estariam "preocupando a nação?".
Eu acredito que a nação prefere se preocupar com assuntos mais importantes como a inacreditável escalada da violência em São Paulo nas primeiras semanas desse mês de maio, já que o governo Lula a muito tempo parece ter perdido sua importância.
Alguém já escreveu que a humanidade está sempre três doses atrasadas mas, pelo menos por aqui, desde o Brasil da jeribita ao Brasil do Black label, estamos muito bem servidos. E, infelizmente, agora estamos vivendo dias de ressaca das bravas.
Alguém aí tem o eficaz suor dos companhões de um cavalo? Se não tiver, serve um Engov mesmo.
Jornalista e radialista
www.novoslabirintos.blogger.com.br