Luís Flávio Sapori
Professor e coordenador do curso de ciências sociais da PUC Minas
Alguns leitores questionaram a confiabilidade dos dados divulgados pela Fundação João Pinheiro, argumentando que tem havido manipulação das estatísticas criminais e mera massificação de propaganda de governo. O ceticismo em relação às estatísticas criminais é normal. O que não se pode é questioná-las a partir de experiências pessoais imediatas ou mesmo por meras impressões pessoais e achismos. Aliás, a segurança pública no Brasil sempre viveu de ACHISMOS de supostos profissionais que sempre tiveram a EXPERIÊNCIA PRÁTICA de combate ao crime. Pois bem, foi devido a pessoas com tais características que vivenciamos vinte anos de degradação da segurança pública. Experiência prática não é pré-requisito para se tornar um bom gestor de POLÍTICA PÚBLICA DE CONTROLE DA CRIMINALIDADE. Essa expressão está em caixa alta para reforçar o argumento de que segurança pública é algo que vai muito além de polícia e exige muito mais do que habilidade para ‘subir o morro para prender e/ou matar bandido.’
Os dados da redução da violência em Minas Gerias são bastante confiáveis. Tanto a Fundação João Pinheiro quanto o CRISP -UFMG têm acompanhado a sistematização das estatísticas criminais do estado há mais de dez anos. São instituições sérias e dotadas de profissionais muito competentes e que não se curvariam a uma ‘suposta’ tentativa de manipulação de dados por parte das polícias ou do governo. Não se esqueçam de uma coisa : a mesma base de dados que mostrou o crescimento absurdo da violência em Minas Gerais entre 1997 e 2003 é a que agora revela uma consistente redução da incidência dos crimes violentos. ‘Pau que bate em chico, serve também pra francisco’, diz a sabedoria popular .
Alguns comentários insinuaram uma abrupta mudança de opinião da minha parte em relação à segurança pública em Minas Gerais. Meus amigos, criticar é importante e deve conformar o cotidiano da democracia. Mas elogiar também é importante. Reconhecer avanços e identificar virtudes é parte do exercício crítico. E não há como negar, apesar de muita gente apostar em contrário, que a política de segurança pública em Minas Gerais retomou seus trilhos em 2008, depois de um 2007 muito problemático.