Série histórica da pesquisa nacional por amostra de domicílios divulgada, na semana passada, pelo Ipea - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada mostra que a universalização da educação básica continua sendo apenas um desejo do país e uma meta do governo.
De acordo com os dados divulgados, referentes ao período de 1992 a 2009, apenas a região Sudeste atingiu a meta constitucional de oito anos de estudo para cada cidadão com 15 anos ou mais de idade. A média nacional encerrou 2009 em 7,5 anos.
Há dez anos, a média nacional era bem inferior, 6,1 anos, o que comprova que estamos evoluindo. Mas, se comparado aos padrões internacionais, que sugerem 10 ou 12 anos de estudo, o avanço ainda é insuficiente.
Mesmo na região onde a meta foi atingida, o ensino fundamental está longe de alcançar grandes fatias da população já que, encerrada a fase escolar, por volta dos 14 anos, a frequência escolar cai sensivelmente na faixa entre 15 e 17 anos
Apesar de ser decrescente no período analisado, o analfabetismo também é um fator determinante na baixa evolução da escolaridade dos brasileiros, especialmente entre os adultos com mais de 40 anos, que já possuem uma vida estabilizada e perdem gradativamente o interesse pela educação
Segundo os dados do Ipea, no ano passado, 14 milhões de brasileiros não sabiam ler ou escrever. Somente no Nordeste, cerca de 18,7% da população de 15 anos ou mais de idade não sabe ler ou escrever um simples bilhete. No Sudeste, a taxa é de 5,5% da população.
Se quiser reverter esses números, o governo federal vai ter que empreender uma ampla reforma da escola brasileira, tornando-a mais atraente. Um estudo da Fundação Getúlio Vargas comprova que 40% dos alunos que abandonam a escola o fazem por desmotivação. É preciso criar condições para incentivar a permanência na escola, aumentando, assim, as chances do jovem ingressar na universidade.
É preciso também aumentar a qualidade do ensino desde os anos inicias de forma a melhorar a progressão dos níveis educacionais. Do contrário, o ensino público vai continuar formando jovens com dificuldades para ingressar no mercado de trabalho, não só pela oferta escassa de vagas, mas também pelas dificuldades no processo de seleção, já que a esmagadora maioria dos estudantes brasileiros não está preparada para a disputa.
Com a universalidade da educação a tendência é que o ensino médio receba cada vez mais alunos, mas para garantir os estudantes cheguem ao ensino superior, e saiam preparados para ingressar no mercado de trabalho, a universalização por si só não garante os níveis educacionais que o país necessita. Ela deve ser acompanhada da melhoria da qualidade de ensino oferecida.