Montes Claros são duas. É esta a conclusão a que chega qualquer morador que se vê diante de um aparelho de televisão ou de um dos milhares de panfletos e impressos que insistem em dizer que nossa cidade está linda, bem cuidada e, pasmem, com ações aos montes. Se o slogan absurdo criado pelos marqueteiros da prefeitura se referisse às milhares de ações que deram entrada na justiça pedindo a penhora de casas e eletrodomésticos de cidadãos honestos que atrasaram o IPTU, pelo menos saberíamos de que ações se tratam.
Na verdade, eles apostam na teoria da propaganda nazista: uma mentira repetida exaustivamente se transforma em verdade. Resolveram então criar uma Montes Claros virtual. E a fantasia começou com uma fraude. Obras do governo de Minas, como a construção de avenidas sanitárias e casas populares, e do governo federal, como o Samu, a ampliação do PSF - Programa Saúde da Família e a farmácia popular, entre muitas outras, aparecem em campanhas publicitárias milionárias como se fossem realizações da capenga administração do prefeito Athos Avelino. Devem ter imaginado que o povo pouco informado nem iria notar. Puseram até imagens de uma estação de tratamento de esgoto que não existe.
Outro passo importante era tentar esconder a Montes Claros real. Era preciso fingir que não existem ruas esburacadas e intransitáveis, ou que a cidade caiu de quinto para sexto lugar no ranking mineiro. Ignorar que os servidores municipais não receberam o décimo terceiro salário, e que pais de família foram demitidos ao mesmo tempo em que o prefeito contratou mais de 2 mil e 500 novos funcionários, inchando a folha de pagamento. Fazer de conta que ninguém teve sua casa penhorada por causa de um dívida insignificante de IPTU, ou que surgem as primeiras e fortes suspeitas de superfaturamento em obras da prefeitura. Afinal, estamos vivendo no paraíso... Ainda mais no final do ano, quando costuma-se acreditar até em Papai Noel.
Mentiram tanto os tais marqueteiros, que conseguiram convencer o próprio prefeito de que tudo estava muito bem, e que suas ações aos montes, embora virtuais, estavam deixando a população satisfeita e feliz. Mas a viagem, o delírio deles, como tudo que não tem consistência, duraram pouco.
Nesta semana, durante a formatura conjunta de quase 20 turmas da Unimontes, um coro de milhares de pessoas entoou uma vaia tão sonora que, ao estremecer o Ginásio poliesportivo Tancredo Neves, acabou por acordar o prefeito Athos do sonho que ele insistia em acreditar ser real. Foi uma manifestação tão espontânea e sonora de descontentamento que seria capaz de acordar até o mais exausto imbecil. Em alto e bom som, 10 mil pessoas mostraram ao prefeito Athos, ao vivo e em cores, que vivem na Montes Claros real, e que não acreditam em mentiras, mesmo que repetidas milhares de vezes em horário nobre.
Fortunas gastas em propaganda de nada adiantaram. Cartilhas (outra estratégia nazista) como um tal Atlas Escolar, onde cometeram a aberração de dizer que só existem 14 vereadores na câmara municipal, apenas para não incluir na relação o deputado eleito Ruy Muniz, não servem para mascarar uma administração incompetente e sem rumo.
O que se espera é que, agora, depois de vaiado e humilhado por uma multidão, ao ponto de ter que deixar o recinto vinte minutos antes do encerramento, o prefeito perceba que a Montes Claros virtual criada por ele não existe. E quem deu o recado foi a Montes Claros real, que se fez ouvir ao som de vaias dadas por cidadãos de todas as classes sociais, e que têm em comum a decepção e a revolta em assistir ao abandono e à decadência da cidade que amam.
Prefeito, ouça a voz rouca das ruas, e acorde para a triste realidade a que está nos conduzindo! Não tente enganar o povo, e, principalmente, não tente enganar a si próprio. Porque, infelizmente, cada dia mais desse sonho virtual que o senhor insiste em divulgar pela mídia corresponde a um dia a mais de pesadelo real para nós, pobres montes-clarenses.