A capa de O Norte que se tornou antológica e revelou um dos gestos de coragem mais nobres da história recente de Montes Claros

Diferentemente dos políticos por ideologia, por amor à nação e ao cidadão, político de carreira vive em guerra. Não nos deixa mentir o artigo enviado pelo prefeito de Montes Claros, nesta terça-feira, à redação de O Norte, que se diz estar em guerra em face da antecipação da campanha política municipal em pelo menos um ano, campanha essa, diga-se de passagem, que nem sabe se será aceito na disputa.

No artigo, o prefeito tentar justificar o injustificável, ao priorizar uma verba considerável a um viés do esporte, o time de vôlei, recurso que poderia perfeitamente atender a direitos básicos como oferecer uma quadra de esportes em condições de uso nos bairros e reativar o projeto Viva Vôlei, cumprindo o que o próprio prefeito defende em seu artigo, que é incentivar jovens à prática esportiva.

O prefeito vem tentando exaustivamente emplacar sua justificativa para garantir que a população engula seu mau passo ao aprovar o repasse do recurso em regime de urgência, sob anuência da Câmara Municipal – que traiu a confiança daqueles que elegeram os legisladores para representá-los e estão sendo declaradamente deixados à mercê por alguns em detrimento da defesa dos interesses do executivo municipal.

O slogan de O Norte é o jornal que escreve o que você gostaria de dizer, e ao defender os interesses da maioria absoluta dos montes-clarenses, dá voz àqueles que questionam a forma como a administração municipal organiza suas prioridades, deixando a cidade às moscas, literalmente, especialmente nos bairros mais distantes do centro, onde o lixo fica jogado nas ruas, mesmo a despeito do aumento abusivo da taxa de limpeza pública, onde crianças jogam bola em meio a esgoto a céu aberto, poeira e toda sorte de animais.

Não está em xeque nessa defesa a forma como os recursos da saúde são aplicados, até porque essa é outra questão a ser debatida e que certamente dará muita argumentação e tentativa de defesa. Principalmente quando o prefeito diz no artigo que quem precisa dos serviços de saúde pública em Montes Claros, vê que ela funciona, atende, resolve, contrariando a realidade estampada nas portas das unidades de saúde, a começar pela secretaria municipal, onde não se consegue seque fazer um Cartão SUS.

O vôlei é importante e representa muito bem a cidade, mas não justifica o regime de urgência com o qual é tratado em detrimento de reivindicações para suprir necessidades básicas de gente simples, que quer ter seus direitos resguardados.

O clamor popular pode ser percebido na capa da edição de nº 1.671, quando o jovem Vítor Lenoir fez questão de estampar um cartaz em protesto, não contra o esporte, mas contra o privilégio do time de vôlei ao ter um repasse aprovado em regime de urgência. Essa capa se tornou antológica e revelou um dos gestos de coragem mais nobres da história recente de Montes Claros.

Os gestos de coragem e resistência se propagaram por toda a cidade. Assim foi quando na missa do último domingo, 10, um pároco do bairro Eldorado no ato do sermão explicitou aos fiéis a indignação quanto ao caráter de urgência com que o repasse foi aprovado.

Este periódico expressa a opinião do povo e o povo está nas ruas debatendo o assunto. Jamais poderia se ater somente a discussões políticas, pois o povo é mais importante que isso. Ademais, o jornalismo sério e ético de O Norte está acima de quaisquer interesses pessoais e partidários.

A presença deste jornal nas grandes decisões da cidade se faz justamente para não deixar que questões como essa passem despercebidas pela gente sofrida de Montes Claros. Nem tudo é disputa política e, como dizia Leonel Brizola, aquele que se ofende é porque não consegue ver em seus adversários nada além do que seus próprios vícios.

Em nome de quem carrega tudo para o campo político, em detrimento do povo, ficam as palavras do poeta Ferreira Goulart:

A história humana não se desenrola apenas nos campos de batalha e nos gabinetes presidenciais. Ela se desenrola também nos quintais, nas ruas de subúrbios, nas casas de jogos, nos colégios, nas usinas, nos namoros de esquinas (...). Disso eu quis fazer a minha poesia. Dessa matéria humilde e humilhada, dessa vida obscura e injustiçada, porque o canto não pode ser uma traição à vida, e só é justo cantar se o canto arrasta as pessoas e as coisas que não têm voz.

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