Mais uma vez a memória e a boa fé do povo de Montes Claros são vilipendiadas por maus políticos que parecem se espelhar no lodaçal que emporcalha a República de Brasília, para vender o futuro das gerações que nos sucederão. O que se verifica nesta cidade, a partir das obras iniciadas (e já em fase adiantada de execução) na Avenida Coronel Prates, é um acinte e, mais do que isto, uma agressão à tradição montes-clarense, aos princípios modernos de urbanização, à prioridade de locomoção do cidadão pedestre em detrimento ao automóvel e uma nojenta tentativa de engodo da opinião pública.
O quilométrico release de 7.123 caracteres enviado à imprensa pela Ascom constitui um atentado à inteligência dos profissionais das mídias impressa e eletrônica de Moc, que só se calariam mediante tamanha desfaçatez se realmente estivessem submissos ao ou coniventes com o poder municipal. Tampouco se espera que os integrantes da câmara de vereadores caiam em tão disparatada aleivosia construída a partir de falsos interesses não confessados que certamente pairam por trás do ardil usado para apresentar mais uma sórdida obra contra Montes Claros e sua gente.
Exemplos passados, como a destruição do mercado da Praça Dr. Carlos, da igrejinha do Rosário, de prédios históricos da Praça da Matriz, da casa de Darcy Ribeiro e de tantos outros patrimônios desta terra de Figueira, nada disso se compara à derrubada do antigo Seminário Diocesano e, na seqüência, da sede da paróquia, do famoso teatro-auditório que foi cenário inclusive de cinema, e da prefeitura municipal, para dar lugar a um famoso supermercado que, com certeza, vai desfigurar e enfear inteiramente o Centro da cidade, além de assombrar ainda mais o caótico trânsito urbano e a falta de segurança dominante.
Não se entende - tirante a insensibilidade da arquidiocese metropolitana em trocar o histórico imóvel por 33 milionárias moedas de dólares - a presteza da prefeitura em destruir a bucólica, charmosa e até então transitável Avenida Coronel Prates por pistas rolantes de presumível alto grau de mortalidade a partir de sua liberação para o tráfego de incontáveis carretas para o fluxo em direção ao super-hiperbólico mercado que passará a funcionar no leito do outrora ameno recanto dos padres.
Não se trata, aqui, de nenhum tratado de saudosismo ou de rancor, mas de questionamento quanto à progressiva inversão de valores, que faz uma administração - equivocadamente apresentada em campanha como humanitária, ambientalista e cidadã - colocar-se de repente como inimiga da comunidade, sectária do capitalismo que antes abominava e fiel escudeira dos conchavos gananciosos tramados nas capelas agiotas da amoral cristã.
Apenas e somente um argumento justificaria tanta patifaria contra os princípios honrados de quem ainda propugna pela honestidade: milhões, senhores leitores, milhões! Se é que se justifica a propina, a corrupção...