De acordo pesquisa realizada pelo do IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, divulgada na última sexta-feira, o Brasil registrou avanços notáveis na área de assistência médico-sanitária na última década, mas não consegue superar a grave doença estrutural da desigualdade no acesso aos serviços de saúde.
Os dados da pesquisa revelam que em todo o país, aumentou progressivamente, desde 1999, a proporção de médicos e equipamentos de saúde em relação à população. Mas os números mostram que profissionais e tecnologias fundamentais para o diagnóstico de doenças responsáveis por grande número de mortes continuam concentrados nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Norte e Nordeste permanecem na lanterna da lista de beneficiários dos recursos da saúde, tanto na disponibilidade de profissionais quanto na de equipamentos modernos.
O tamanho dessa desigualdade é particularmente impressionante na taxa de médicos por mil habitantes. Em 2009, na região Sudeste, havia 4,3 médicos por mil habitantes. No Sul, o índice chegou a 3,4 e no Centro-Oeste, a 3,1. No Nordeste e no Norte, a taxa é inferior à média brasileira, que ficou em três médicos por mil.
A Organização Mundial de Saúde não estabelece um patamar desejável nesse indicador, mas a comparação com outros países fala por si só. Estudo do Conselho Regional de Medicina de São Paulo, feito em março de 2010, mostra que a estatística atual de saúde reedita até a famosa Belíndia, termo criado pelo economista Edmar Bacha nos anos 1980 para ilustrar a imensa desigualdade brasileira – indicadores de Bélgica e de Índia no mesmo país. A cidade de São Paulo tem índice belga (4,3 médicos por mil habitantes) e o Maranhão, com apenas 1,3 médico por mil habitantes, está próximo da realidade indiana.
O IBGE aponta ainda como desequilíbrio estrutural importante a concentração de profissionais nas capitais, com grandes vazios no interior do Brasil. Em 2009, 23,7% da população viviam nas capitais, enquanto 40,2% dos médicos estavam lotados nessas cidades, o que equivale a uma relação de 5,6 profissionais por mil habitantes, contra uma proporção de 2,6 nos demais municípios.
A desigualdade na distribuição de médicos e de equipamentos apontada na pesquisa do IBGE só confirma que o país está longe de conseguir reduzir a chaga da desigualdade no acesso aos serviços de saúde.