Dona Net e eu

Jornal O Norte
Publicado em 05/08/2010 às 11:31.Atualizado em 15/11/2021 às 06:34.

José Wilson Santos


zewilsonsantos@hotmail.com



Tão tá então. Confesso novamente, reafirmo com todas as letras: sou um analfabeto digital. Impossível negar. Em minha defesa, unicamente o fato de que a tecnologia muda todo dia, inclusive no formato, o que deixa a gente a ver navios.



Imagine você, índio velho, que depois de passar seis meses com a colinha na mão, checando e prexecando, para finalmente aprender a mexer no basiquinho do tal do e-mail, vem não sei quem, não sei de onde, com ordem não sei de quem e muda o formato do trem, bagunçando tudo travês.



O que estava em cima foi para baixo, o que tava embaixo foi pro lado e o Degas aqui foi pras cucuias. Dançou igualzinho azeitona em boca de banguelo.



E para sacanear o pobre do analfabeto digital aqui, ainda picharam lá em cima, na maior cara dura: “Facilitamos sua vida”.



Êta que quá!



Mas, mudando de pau pra cacete, eu estava me achando. São trocentos e-mails em minha caixa de entrada, todo santo dia. O Degas aqui foi pras cabeças, se sentindo o gás da Coca-Cola. Rapá, não é que achei que tinham me descoberto por causa dos meus textículos neste O Norte?



Claro, fui prá galera, no Bar do Vô, me gabando que só vendo. E ouvi, naturalmente:



— Xadisê besta, Zé! São programas que enviam os e-mails automaticamente. Todo mundo recebe. Não tem a ver com sua pessoa.



Eu bem que tava estranhando, índio velho. Afinal de contas, pinta um monte de trem sem pé nem cabeça. Já me informaram umas 50 vezes que fiquei rico, faturei milhares de libras esterlinas no cafundó do Judas. Pra colocar a mão na bufunfa, basta relacionar documentos pessoais, números da conta bancária e do cartão de crédito. E a senha, lógico.



Teve quem me escolhesse pra um negócio da China: faturar cerca de dois mil por mês sem precisar fazer nadica de nada. Nem vender, nem comprar, nem emprestar. Nada além de relacionar documentos, número da conta, etc, etc e etc para ficar bem na fita.



Chegou, outro dia, e-mail me parabenizando pela excelente compra feita na rebimboca da parafuseta, lá em Belzonte. Tava tudo certinho. Que eu clicasse ali e seguisse os passos para confirmar ou não a transação. Até marcaram horário pra eu ficar em casa, a fim de  receber a tevezona de 50 polegadas, com Full HD, da qual acabara de me tornar o próprio otário.



Além dos assuntos encaminhados pelos colegas de imprensa, e por instituições, faz bem pro ego o material enviado por algumas doninhas. Ou doidinhas. Mesmo sabendo que o Degas aqui atira com espingarda de dois canos, com grande probabilidade de pintar gêmeos no pedaço, ainda assim elas querem coisar.



Meu chapa, tem de tudo na internet.



Não é à-toa que tem gente levando canos fenomenais ou enfrentando problemas pessoais brabos, por conta da dona net. Principalmente quem é muito esperto.



Besta assim que nem eu não vai nessa não. Aprendemos que a única maneira de ganhar dinheiro fácil é trabalhando.



Quanto às doninhas... Bom, a gente já arruma muita sarna pra se coçar sem ajuda da internet.



Falei e disse?

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