Logotipo O Norte
Sexta-Feira,20 de Setembro

Deslocamento de retina

Jornal O Norte
26/11/2009 às 09:01.
Atualizado em 15/11/2021 às 07:18

Ronaldo Duran


Romancista


 


O velocímetro marca 100 km/h . Carros atrás buzinam, querem passagem. Ele acelera, chega a 120 km/h . Os apressados insistem, pedem para sair da frente. Para quem não quer ficar à mercê das buzinadas, das pressões para sair do caminho, bastaria ir para pista direita. Na rodovia Presidente Dutra, contudo, quem segue pela pista direita encontra ora afobados caminhões. Quantas vezes ele não viu os carros de passeios serem pressionados a saírem do caminho ou acelerarem forçados por caminhões? Os motoristas prudentes, que ficam na velocidade permitida nas placas, ah, estes sofrem.

Cá entre nós ele faz parte dos que gostam de atolar o pé no acelerador. De sentir o ar bater com força contra o carro, a adrenalina subir.

Óbvio que este dentista de trinta e poucos anos tem mãe, avó, mulher, enfim, todos os que o amam, aconselhando-o a andar mais de vagar, ou pelo menos, ter cuidado para evitar acidentes. Para o motorista, estas observações num primeiro momento soam carinhosas, mas a persistência é tomada como uma ofensa. Que motorista gosta que duvidem de sua capacidade ao volante?

Acidentes feios já ocorreram. Em três, ele teve apenas arranhões, e algum prejuízo financeiro. Muitas vezes seu ego conseguia a desculpa: “Foi culpa do outro...”. E, para um motorista que desconhece a direção defensiva, ele estaria certo na acusação. Uma freada brusca, e bate na traseira de alguém, culpa das luzes de freio do condutor à frente. Acidente que tranquilamente seria evitado se ele estivesse no limite de velocidade permitida e mantendo a devida distância. Noutra vez, a caminhonete entra na frente sem respeitar a preferência. Podia ter freado, se estivesse a 90 km/h , velocidade recomendada nos trechos com mais tráfego.

A cada acidente achava um culpado, menos ele. Desta vez com certeza, arrumaria um, mas o prejuízo fora muito maior. A batida aconteceu na altura de Arujá. Na hora, só o incômodo de ter a viagem interrompida. Dali a seis meses, o pior. Notara que a visão sumia ou que embaçava com facilidade. Foi ao oftalmologista. O diagnóstico fatal ditava um deslocamento de retina. Se não houvesse uma cirurgia urgente, perderia toda a capacidade de enxergar. Mesmo a cirurgia tinha o risco de ser um fracasso. Devia ser tentada como último recurso. Implantara uma prótese.

Deu certo, mas o médico evitou iludir. “Esta prótese de silicone tem prazo de duração curto. Em breve você terá que trocar, e para tanto se submeter ao mesmo processo. Nesse caso, o risco será muito maior”.

Compartilhar
E-MAIL:jornalismo@onorte.net
ENDEREÇO:Rua Justino CâmaraCentro - Montes Claros - MGCEP: 39400-010
O Norte© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por