*Eduardo Costa
Não há conversa mais chata que essa de nos prepararmos para a Copa do Mundo. Ela será tão rápida, especialmente em nosso estádio, que um esforço de maquiagem no caminho dos estrangeiros resolverá eventuais dificuldades que podem amarelar o sorriso de nossas autoridades. Na verdade, o que a gente precisa providenciar para 2014 é exatamente o que estamos precisando fazer há 20, 30 anos.
E é o mínimo: ter um aeroporto decente, tráfego de veículos pelo menos sensato, hotéis de boa qualidade e pessoal treinado, enfim, coisas que qualquer cidade de porte médio do mundo tem. Ah, e se for possível, abrir a cabeça dos que nos governam. Acaba de sair do forno um belo exemplo de como é simples. O Departamento de Estradas de Rodagem (DER-MG), com o respaldo da Secretaria de Estado de Transportes e Obras Públicas e o apoio da Infraero, fez uma pesquisa com 2.342 pessoas em um universo de 164 mil usuários, por dia, do Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins.
Os números obtidos só atestam o que já sabíamos, a começar pelo fato de que 3 mil pessoas viajam clandestinamente entre o aeroporto e o Centro da cidade, todo dia. Por que? Porque custa menos e os veículos oferecidos pelos “piolhos” são mais confortáveis. Mas, porque os táxis, que cobram em média R$ 103 pela corrida até Confins não podem diminuir o preço e liquidar com os clandestinos? Porque os de lá só podem trazer passageiros, e os daqui só podem levar.
Negócio absolutamente incompreensível, provinciano, idiota mesmo, só justificado pelo prefeito de Lagoa Santa que, na maior cara de pau, anunciou na rádio Itatiaia: “Nossos 300 táxis são suficientes para atender os 5 milhões de usuários do aeroporto”. Escárnio. E, por causa da política, da politicagem, não aparece uma autoridade capaz de encará-lo. Outra revelação da pesquisa: já foi o tempo em que aeroporto era lugar de glamour, gente rica. Hoje, a metade dos que passam por lá o faz a trabalho, ganha menos de cinco salários mínimos e não tem mais que ensino médio.
Por isso e pela lógica da moralidade, a pesquisa também afirma que ninguém aguenta os preços escorchantes que as lanchonetes cobram em Confins. Muito menos a carência absurda de vagas no estacionamento. Então, caríssimos, ficamos combinados: enquanto a Copa não vem, deixemos de ser pequenos, façamos o dever de casa, viajemos um pouco para ver o quão longe os outros estão e não percamos mais tempo.