Antônio Augusto Souto
A água que vejo agora,
neste lago de puro encanto,
tem as cores da aurora,
tem a tristeza do pranto.
Passa ave, em rasante,
poetizando o instante.
A doce brisa que sopra aqui,
o poeta sente, escuta e vê:
é canção de Debussy,
é aquarela de Monet.
Não há razão que amaine
um poema de Verlaine.
Deste píer balouçante
das águas que me encantam,
percebo o átimo, o flagrante
das notas que se levantam,
das cores que alegram a vista
do poeta impressionista.
Flagrar, registrar momentos,
seja em notas, tela ou verso,
seja em tíbios pensamentos,
de tudo o que, junto ou disperso,
cabe na vida real e plena,
é poesia, grandiosa ou pequena.