De Minas a um mineiro, por Carlos Lindenberg

Jornal O Norte
13/01/2007 às 13:07.
Atualizado em 15/11/2021 às 07:55

Desde ontem, o vice José Alencar Gomes da Silva está no «exercício» informal da Presidência da República, já que permanece em Brasília. Lula, saudável, tira dez dias de férias e vai curti-las numa praia privativa das Forças Armadas, em São Paulo. Alencar, nem bem recuperado de uma cirurgia no abdômen e sob tratamento para combater um câncer, fica no batente. As coisas não serão alteradas. É tudo combinado e isso justifica a presença do vice nas chapas dos que disputam a Presidência da República de tempos em tempos.





José Alencar, no entanto, poderia alterar alguma coisa. Nada que magoasse o titular ou que pudesse ser entendido com um ato de traição a Lula. Assim como Lula atendeu - e o fez bem - o pedido de tropas federais do governador Sérgio Cabral, enviando de início 400 homens armados para combater a criminalidade no Rio de Janeiro, bem que José Alencar poderia mandar para Minas algumas máquinas e um pouco de dinheiro para fazer frente ao mau estado de conservação das estradas federais que passam por Minas Gerais.





Não é pedir muito. É verdade que a situação do Rio de Janeiro, se é boa nas estradas, é péssima no que tange à violência urbana e que lá, ao contrário de cá, quando acontece alguma coisa o pais inteiro acode, em solidariedade aos cariocas e com receio de os turistas desviarem a sua rota de lazer para outros continentes, quando não para outros países. No caso de Minas, não. O problema aqui não chega a ser a bandidagem explícita, escancarada e abusada como a do Rio. Até que nesse ponto Minas não dá dor de cabeça ao presidente da República. É verdade que o dinheiro da segurança pública que cabe ao Estado continua contingenciado nos cofres do Tesouro Nacional, mas o problema dos mineiros é outro. São as estradas. As federais, principalmente, já que as estaduais estão razoavelmente sob controle.





É neste ponto que se pede a atenção do vice José Alencar. Mais do que outros mineiros, o presidente em exercício conhece as estradas de Minas. Como candidato ao Governo do Estado, anos atrás, ele rodou por todas as regiões de Minas. E como candidato, duas vezes, à Vice-Presidência da República, também rodou por Minas Gerais inteiro, pedindo votos para ele e para Lula. Algum desavisado poderá dizer que o vice, assim como o presidente, anda de avião e por isso não conhece a situação das estradas. Ocorre que José Alencar está ligado nas coisas de seu Estado, não só pela leitura dos jornais, como pelos relatos que lhe fazem os mineiros que com ele se encontram.





Por isso mesmo, José Alencar sabe que o tapa-buraco feito pelo Dnit no ano passado derreteu-se com as chuvas de dezembro - e olha que o titular do Dnit na época era alguém indicado pelo vice-presidente. Alencar sabe de cor e salteado a situação da BR-135, que demanda a Montes Claros. Seria capaz até de citar os pontos críticos dessa estrada. Como sabe também das outras. Mas sobre a 135, ele deve saber mais até porque por ela passam as carretas carregadas de peças de pano fabricadas pela Coteminas, da família do vice-presidente. De sorte que José Alencar bem que poderia aproveitar as férias de Lula para dar um adjutório aos que precisam passar pela BR-135, assim como pela 040, pela 365, ou ainda pela 251 ou pela 050. Se Lula atendeu ao pedido do governador Sérgio Cabral, não deve custar muito a José Alencar atender aos apelos de seus coestaduanos, ainda que corra o risco de ser chamado de provinciano ou de ser acusado por olhar os seus sem atender aos de Mateus. Minas e os mineiros não merecem esse descaso do Governo federal e apelam diretamente ao presidente em exercício, porque estão órfãos de quem possa fazer isso por eles.

Extraído do Hoje em Dia – Edição de 06.01.2007

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