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Quarta-Feira,10 de Setembro

Cultura e participação popular – o movimento Manguebeat

Jornal O Norte
Publicado em 29/08/2011 às 19:01.Atualizado em 15/11/2021 às 06:04.

Marcelo Valmor Paculdino Ferreira (*)






“É pedra que apóia tábua


Madeira que apóia telha


Saco plástico, prego, papelão


Amarra corda, cava buraco, barraco 


Moradia popular em propagação...”



Nação Zumbi






Em 26 de novembro de 1990 o Jornal do Comércio de Pernambuco relatava em reportagem, em uma das suas páginas, que a cidade de Recife era a quarta pior para se viver no Brasil.



Segundo o mesmo jornal, os motivos eram mais do que claros, e estavam amarrados com o processo de formação histórica da região. A planície onde a cidade foi fundada é cortada por seis rios. Após a expulsão dos holandeses no século XVII, o aterramento indiscriminado dos seus manguezais começa, paulatinamente, a entupir as veias da cidade.



No início dos anos de 1970, o mito da metrópole, combinado com a crise econômica agrava o quadro de miséria e de caos urbano. Nesse sentido, a criação de uma metáfora a partir da medicina é fundamental para explicar a realidade da cidade. Segundo essa interpretação, Recife estaria, a partir desta relação, com suas veias entupidas e, assim como todo paciente enfartado, prestes a morrer.



Como devolver o ânimo? Simples. Injetar energia na lama e estimular o que ainda restava de fertilidade nas veias da capital pernambucana. E nada melhor do que lançar mão de um espaço extremamente rico como é o mangue. Afinal, o encontro de água doce e salgada torna esse local ponto de encontro de vários microorganismos, o que faz dele o ecossistema biologicamente mais rico do planeta. E é nesse encontro entre o local (rio) com o mundo (mar) é que essa metáfora é construída.



O contraponto que a classe artística encontrou para revigorar o universo local foi a fusão de elementos do rock pós punk com o bloco de samba-reggae, dando início a um dos movimentos musicais mais originais do país. Estamos falando do movimento Manguebeat.



Os antecedentes deste movimento estão localizados em meados de 1991 quando começa a circular uma série de idéias pops, “o que acaba por gerar um circuito energético, capaz de conectar boas vibrações dos mangues com a rede mundial de circulação de conceitos pop. Imagem símbolo: uma antena parabólica enfiada na lama”.



Os mangueboys, as manguegirls adotam o hip-hop, a discussão da Teoria do Caos, discussões sobre Jackson do Pandeiro, Os Simpson, etc, aplicados no terreno da alteração e expansão da consciência.



A descarga inicial de energia gerou uma cena musical com mais de cem bandas, programas de rádio, desfile de moda, vídeo clipes, filmes etc. Pouco a pouco as artérias vão sendo desbloqueadas e o sangue volta a circular.



(*) Professor e Jornalista


 

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