Crônica de uma indignada tupiniquim

Jornal O Norte
01/02/2007 às 10:27.
Atualizado em 15/11/2021 às 07:56

Renata Rodrigues *

Há tempos queria retornar a escrever, mas não um simples escrito, muito além da dialética prosaica de Marilena Chauí, mais profundo que os escritos doutos de Frei Betto, talvez com a ousadia de Arnaldo Jabor e as ironias machadianas. E de tanto pensar, colocar a caneta pra funcionar, saiu esta simplória crônica, diga-se de passagem, não é a primeira, e sustento que não será a última, eis que enquanto houver inspiração e bom senso continuarei escrevendo.

Cada dia que passa somos surpreendidos com tantas notícias mirabolantes, manchetes sensacionalistas e assustadoras e, gabem, tem até  umas emocionantes, porém raras, mas emocionantes, que nos envolvem e nos faz indagar: Será se Deus realmente é brasileiro?

Se fixarmos os olhos no céu e por um momento vemos apontar um avião por entre as nuvens, num breve retrocesso associaremos todo um caos enfrentado pelos passageiros que ali estão sobrepostos e da cadeia de indivíduos que direta e indiretamente foram prejudicados com a greve dos heróicos controladores de vôo. Claro, e entrando no mérito da questão das diversas vidas que não voltaram para o seio de sua família, destroçadas em terra firme.

E se no céu está um situação grave, a cratera formada na construção do metrô em São Paulo, nos leva a refletir o quanto somos vulneráveis a esse mundo tão injusto e incerto.

Toneladas de batatas jogadas no lixo, enquanto milhares de pessoas estão padecendo com a fome. A mesma dor que destrói idéias, que aborta a dignidade e divorcia o ser justo do corrupto e faz aumentar cada vez mais a massa prostituída por Bolsas e Benefícios.

E, assim, vão movimentando a máquina administrativa, concedendo importantes ajudas a países pobres, tapando os olhos para a realidade cruel que assola os tupiniquins, propondo PAC quando parecemos de uma singela e bonita PAZ.

A paz, tão sonhada paz, divulgada paz; utópica paz que tem seus princípios dilacerados no trânsito, seja por terra ou por mar. Mulher com dedos mutilados por míseros tostões; homem com braço mutilado por irresponsabilidade e crueldade de criminosos que não mostram a cara, ficam escondidos em sua covardia.

Sentimentos por justiça vão se acomodando, os gritos de indignação ficam presos na garganta, e mais uma vez nada se faz. Enquanto isso os nobres colegas deputados se confraternizam; ensinam os principiantes a votarem na eleição para o presidente da Câmara, arquitetando assim aliados, somente aliados,  pouco importando em desfazer as impunidades e desigualdades  que maculam a sociedade brasileira.

Lalau já foi para casa descansar, Suzane Assassina está quase saindo de seus aposentos. Se Deus é mesmo brasileiro, justificaria em parte tanto caos, afinal somos muitos, somos milhões, somos um turbilhão de idéias e atos que se concretizam. Que nossa banda boa seja personificada numa ilustre desconhecida que se jogou em um poço para salvar seu filho e que neste instante incorporasse o universo dos brasileiros, para sermos exímios governantes, exemplares pais e filhos, respeitosos chefes, nobres seres humanos que com um pouco de bom senso e altruísmo resolveria consideravelmente a atmosfera de injustiça e impunidade que se alojaram no âmago deste Brasil varonil.

* Advogada em Montes Claros

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