Crônica de um nome incomum, por Délio Pinheiro

Jornal O Norte
Publicado em 05/01/2007 às 10:07.Atualizado em 15/11/2021 às 07:54.

Lendo uma crônica do meu amigo “imortal” Itamaury Telles nas páginas aqui do Norte eu percebi as delícias e as agruras de se ter um nome incomum. Acredito que o meu também se localize nesse panteão de originalidade. Assim como também é incomum o nome do editor do referido jornal, Reginauro. Diz aí: Quantos Reginauros e Itamaurys você conhece? Provavelmente os mesmos que eu conheço. E essa é uma das vantagens de se ter um nome singular. Claro que tem também suas desvantagens, e uma delas foi citada por Itamaury: a impossibilidade de se debitar a algum homônimo nossos erros de percursos. E isso se dá pela quase total ausência de homônimos.





Eu conheço somente outro Délio aqui em Montes Claros, e ele é frentista de um posto de gasolina nas proximidades da prefeitura. O outro Délio que conheço é um ex-vereador de Porteirinha. E tem um vereador de BH chamado Délio Malheiros e um advogado ilustre que tinha o esquisito nome de Délio Jardim de Matos. E só. Nenhum personagem de novela e nenhum jogador de futebol foi batizado com esse nome. Um total descaso com os Délios, poucos, é verdade, espalhados por esse país. Inclusive, conclamo os Délios de Montes Claros e da região para se manifestarem depois de lerem essa crônica.





Vamos ver se dá pra encher pelo menos uma van com os xarás que tem a honra de carregar esse nome, que designa os moradores da ilha grega de Delos.





Eu tenho muito orgulho de meu nome. É uma homenagem ao meu avô que eu sequer tive o prazer de conhecer. Apesar desse orgulho, eu sei que se trata, talvez, do nome mais fácil de confundir no Brasil.



Meu nome é Délio. “Alguém aí disse Hélio, ou Célio, ou Nélio?”. A verdade é que quase todos os dias eu preciso dizer: “É Délio, com d de dado”. O espantoso é que já chegaram a confundir com Pélio. Você por acaso conhece algum Pélio, ou Zélio por aí?





Alguns dias atrás eu pedi um churrasco no delivery de um restaurante e quando chegou a entrega e vi lá na notinha o meu nome corrompido, “Bélio”, eu imaginei que esse até que tem algum significado, pois fiquei mesmo com vontade de pegar um arsenal bélico e dar cabo de quem escreveu essa atrocidade.





Eu tinha uns colegas de faculdade de jornalismo que, de brincadeira, me chamavam de Grélio. Mas assim, excetuando as brincadeiras, ninguém nunca confundiu.  Quando eu comecei no rádio e poucos me conheciam em Montes Claros, foi uma verdadeira prova de paciência. Quando os ouvintes ligavam pra rádio 98 e perguntavam quem estava falando e eu respondia que era Délio, o ouvinte, invariavelmente, sempre confundia “Célio, Nélio?”. “Não, Délio, com d de doido”. Lembro-me de ter ficado tão chateado com esse negócio que, já no final do programa, quando o telefone tocou pela centésima vez e a ouvinte perguntou quem estava falando, eu disse: “É o Hélio”. Do outro lado da linha a ouvinte disse: “Délio?”.



* Jornalista e radialista


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