Crime contra a urbanidade IV

Jornal O Norte
13/07/2006 às 08:09.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:39

Reginauro Silva *

Em um regime democrático, é imprescindível a interação governo-governados no exercício da administração pública. Essa prática - sufocada pela ditadura militar que fez do Brasil uma nação imposta de cima para baixo, sob o tacão do chicote e os gritos das masmorras - desprezava toda e qualquer opinião que não emanasse dos quartéis ou não coadunasse com os destramelos de seus capatazes de coturno.

Os brasileiros das décadas de 60/70/início de 80 sofreram as mais humilhantes, as mais  torturantes, as mais ignóbeis, as mais perversas, as mais desonrosas, os mais nojentos, os mais vis, os maiores estupros contra a livre liberdade de pensar, o direito de sugerir, a garantia. A manifestação popular, o associativismo, a discussão político-partidária, o debate salutar das idéias, da ideologia.

Varridas, ora escamoteadas por concessões do poder dominante, outras por desmascaradas manobras maquiaélico-golberyanas sob rótulos como anistia, colégio eleitoral, legendas parlamentares, figuras urgidas na malandragem oficialesca geraram movimentos que, lenta e gradualmente, incendiaram a cena brasileira, daí surgindo termos e palavras de ordem ainda recentes na mente do eleitor, como solidariedade, povo unido jamais será vencido, mutirão, ditadura nunca mais, administração administrativa.

Pois o prefeito Athos Avelino parece estar saudoso daqueles tempos sombrios. Não mais a horizontalidade do diálogo entre chefes e empregados, não mais as reuniões de bairro, não mais as conquistas sociais, não para o mutirão, não mais o orçamento participativo, não mais a participação popular na aplicação do dinheiro de todos.

Jogando por terra estas e tantas outras conquistas populares, o prefeito metropolitano retoma o manual julgado sepultado pela abertura política, vomita sobre seus próprios cacos e tripudia sobre aqueles eleitores que, ao alçá-lo à chefia da prefeitura, esperavam ver nele um legítimo representante do neófito partido social capitalista, ao que se deduz agora, muito mais capitalista do que social. Pois que, apesar de todos os protestos, estraçalhou um símbolo ambiental da cidade da arte e da cultura, espremeu um dos pouquíssimos calçadões do centro, tudo isso não-se-sabe-por-quê (ou se sabe?), destramelando a garbosa, cheirosa, passarela natural de pássaros, jovens, crianças, adultos e catopês, a larga Coronel Prates  e, à base de remendo, resumindo a uma passagem de carrinhos de picolé - um de um lado, outro doutro ou na novíssima Alameda Varejeira para Carreta do Bretas.

Compartilhar
Logotipo O NorteLogotipo O Norte
E-MAIL:jornalismo@onorte.net
ENDEREÇO:Rua Justino CâmaraCentro - Montes Claros - MGCEP: 39400-010
O Norte© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por