Daura Carvalho *

Observe a cadeira em que você está sentado ou este jornal em suas mãos. Se dissermos que o empenho de toda a humanidade está inserido nesta cadeira e nesta folha de jornal não é exagero. Se a cadeira tem os pés de ferro, o ferro, de onde veio? Quem extraiu o minério que produziu o ferro? Quem construiu o caminhão que transportou o minério, a cadeira? Quem plantou a árvore que produziu a celulose, que fez o papel? E até o jornal chegar às suas mãos e você estar lendo esta matéria, quantas pessoas estiveram envolvidas neste processo? Todo o esforço da humanidade, sem exagero, está incluído nesta cadeira e nesta folha de jornal. Isto pode ser chamado de cooperação.

Mas há cooperação num outro nível, cooperação como uma virtude, como uma força, como poder. Aquela cooperação que por trás de cada gesto e de cada palavra há um sentimento puro e de bons votos para que haja sucesso verdadeiro na tarefa. E desapego é necessário. Eu coopero simplesmente porque este gesto faz parte da minha personalidade, mas não tenho nenhuma expectativa de retorno, não espero reconhecimento. Sou influenciado por meus valores mais íntimos e não por circunstâncias externas.

Aquele que coopera recebe cooperação. A cooperação não é um jogo de barganha no qual o sucesso de uma pessoa é obtido às custas ou à exclusão do sucesso dos outros. A meta constante da cooperação é o benefício mútuo em interações humanas; ela é governada pelo princípio do respeito mútuo.

A virtude da cooperação requer que eu reconheça o papel singular de cada indivíduo enquanto mantendo uma atitude sincera e positiva. Este papel singular independe de cor, raça, grau de instrução. Os pensamentos positivos dentro do eu automática e facilmente criam o sentimento de cooperação nas mentes dos outros. Se o poder de discernimento for aguçado no momento em que uma pessoa, grupo ou nação precisa de cooperação e o método acurado for aplicado, haverá sucesso nas interações e relacionamentos humanos. O método pode ser tão simples como dar uma explicação a alguém que necessita dela naquele momento, quanto dar amor ou apoio ou saber escutar. No entanto, se não há discernimento para saber que tipo de cooperação o outro necessita e o método correto para supri-la, o sucesso não será experimentado. Isso pode ser comparado a um médico que demora no diagnóstico de uma doença. Ao invés de ficar bom, o paciente experimenta complicações criadas pelo tratamento.

A cooperação é possível quando há naturalidade e não peso. Naturalidade significa ser sincero e generoso de espírito. A cooperação é uma responsabilidade de todos, no entanto, são necessárias coragem e força interna para facilitar o processo. Às vezes, os que assumem a responsabilidade tornam-se alvo de ciúmes, insultos e críticas. O tempo também é valioso porque ele sempre oferece oportunidades singulares para realizar o que é melhor e o que é necessário no momento certo. O tempo coopera com cada pessoa quando optamos por reconhecer sua importância. Estar disponível e fazer a tarefa.

No processo de transformação do mundo, o momento agora é para que cada pessoa empreste um dedo de cooperação, usando sua mente; quando não com a mente, então com o corpo; quando não com o corpo, então com riqueza; quando não com riqueza, então impulsionando e encorajando outros a cooperar. Se cada um emprestasse apenas um dedo, juntos, a montanha de tristeza seria levantada.

A maior cooperação que uma pessoa pode dar é sempre manter sentimentos e bons votos por cada pessoa. Ainda que essa pessoa seja alguém meio chato, difícil ou complicado.

* jornalista

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