Adilson Cardoso *
O Brasil finaliza sua participação nos jogos Pan-americanos do Rio de Janeiro 2007 com uma marca histórica de161 medalhas, sendo 54 de ouro, 40 de prata e 67 de bronze. Na primeira participação do nosso país nesses jogos, ocupamos a 5º colocação com apenas 32 medalhas, sendo 05 de ouro, 15 de prata e 12 de bronze. Nessa trajetória de 15 participações houve muitos acontecimentos extra-jogos que dividiram os sentimentos dos brasileiros.
Em 63 em São Paulo, os jogos antecederam aqueles que seriam os piores tempos para a sociedade brasileira, a renúncia do presidente Jânio Quadros, o fim do período populista e o início do planejamento maquiavélico dos coronéis da ditadura, para que o vice João Goulart não assumisse o poder; terminamos a competição em segundo lugar.
Em 1967, nos jogos de Winninpeg, a ditadura militar está no seu auge, o AI-4 (ato institucional número quatro) reforça o poder do chefe do executivo, ampliando as leis de segurança nacional, cassando os que se levantassem contra as torturas do estado, usando de todas as formas possíveis para que a utopia fosse infiltrada na cabeça dos cidadãos. O Brasil terminou os jogos em terceiro lugar.
Em 1971, os jogos aconteceram na cidade de Calli, dentro do país a situação era tensa, o general Emilio Garrastazu Médici havia assumido o governo. Tido como um dos mais repressores da história da ditadura-64 a 85, fez com que os jogos Pan-americanos se transformassem em abafadores dos gritos que vinham do Dops, das sedes militares e das outras salas escondidas para torturas mantidas pelo regime. O Brasil perdeu muitas vidas, muitos intelectuais foram embora, fugidos, por cantar aquilo que Médici e sua horda não queriam ouvir, também poetas, teatrólogos, sociólogos que se incomodavam com a restrição à liberdade. Terminamos a competição em 4º lugar.
Em 1975 fomos para o México. No comando do país estava o general Ernesto Geisel, novamente o povo em busca de fuga para as dores hediondas da psicopatia militar, gritos nas ruas ao verem conquistas das medalhas são confundidos com os gritos de protesto pela morte do jornalista Wladimir Herzog. Chamado para depor na sede do exército em São Paulo, sobre ligações com o partido comunista, é encontrado morto. Na versão da polícia, Herzog suicidou-se, porém todos os indícios apontaram para assassinato. Durante a competição foram ao todo 44 medalhas, sendo 08 de ouro, 13 de prata e 23 de bronze. Assim foi o saldo final para a sociedade que chorava a morte do jornalista e inúmeros outros desaparecidos.
Em 1979 fomos à disputa de mais um Pan em San Juan, com a direção do Brasil nas rédeas do general João Batista de Figueiredo, que em pleno uso das atribuições que lhe conferem o poder, dá seqüência à abertura democrática, com a anistia a muitos exilados. O povo em processo de readaptação ainda é dividido por correntes que ainda não acreditam nos milagres do general presidente, outra ala aplaude e busca unificação. Mas a verdade é que a liberdade ainda não está inteira, os subversivos desaparecidos continuam sem explicação formal do presidente, mas a pseudo-alegria das medalhas continuam invadindo os rostos de atores e leigos nas redes de televisão manipuladas pelo Doi-Codi. O Brasil ficou novamente no 5º lugar.
Em 1983 Caracas foi a anfitriã da festa, Brasil termina em 4º, as mobilizações políticas são sensíveis em todos os cantos do país, a repressão lentamente vai se escondendo. Em 87 Indianápolis é sede, o Brasil politicamente já sonha com as futuras eleições diretas. Sarney está no poder após a morte do eleito por voto indireto Tancredo Neves. Nessa edição dos jogos terminamos em 4º lugar novamente.
E paramos ontem no nosso ultimo Pan-americano, mais uma vez de sentimentos opostos, desta com o evento cobrindo as lágrimas que tínhamos que chorar de tristeza pelas 200 mortes no acidente com o airbus da TAM, com as 161 medalhas do Pan. Ficamos em 3º lugar. Mas na segurança não tenho noção de onde estamos.
* Técnico em enfermagem e aprendiz de escritor