AS FESTAS DE AGOSTO
Festas de Agosto para mim têm cheiro de saudade, gosto de infância, o sabor dos ventos que agitam as cores das fitas e do aperto nas ruas centrais de Montes Claros pra ver os cortejos passarem, o brilho dos fogos na hora do mastro, a delícia das comidas típicas ao som das apresentações regionais e a confirmação da fé nas celebrações católicas.
Desde criança acompanhei estes significativos símbolos e valores, às vezes sozinho, pois meu pai trabalhava em um barzinho nos fundos da matriz e o menino percorria o centro da cidade encantado pelo batuque dos catopês, louco para ter um capacete com fitas coloridas, feito nas aulas do Grupo Escolar Dom João Pimenta. Assim me sentia pertencente à festa que até hoje aguardo o ano inteiro e vivo intensamente cada momento, doido pra não chegar o domingo com o cortejo final e o encerramento da festa. O menino cresceu e ao iniciar a vida profissional, Dona Jacy, esposa do saudoso prefeito Dr. Mário Ribeiro me presenteou ao convidar-me a fazer parte dos trabalhos nos centros de convívio, onde conheci o Terno dos Caboclinhos.
O carinho e simpatia pelo grupo tornaram-se evidentes desde o início das minhas atividades com os mesmos, quando comandados pelo Mestre Poló, que tinha na maioria dos representantes seus filhos, sobrinhos e vizinhos, na maior parte deles, nossos alunos no centro de convívio que atuei por mais de 15 anos na região do Grande Renascença, região onde residem até hoje. Lá usavam o espaço para ensaio e nos presenteavam com apresentações exclusivas da trança do cipó e da fita que causavam encanto e empolgação a todos.
Apreciar o trabalho dos caboclinhos é ver a cultura local ser exaltada e sustentada com bravura e resistência de um grupo que muitas vezes sem apoio ou respaldo da sociedade, seguram firmes o propósito daquele que sempre manteve viva a tradição do terno, o Sr. Joaquim Poló. As músicas marcantes e as vozes infantis entoadas de maneira pontual ecoam durante todo o ano, quando me pego cantarolando Viva o Divino, meu Santim querido, ele e seus milagres, que têm nos valido... o que causa um sentimento bom e que se transforma em arrepio e sensação de prazer ao segui-los pelas ruas em agosto durante a preciosa missão de sustentar a cultura local.
Mas dá um aperto no peito quando ouvimos Adeus, adeus. Não chores não. Para o ano eu voltarei. Pra cumprir nova missão! Acompanhar o cortejo, colaborar, apoiá-los e defendê-los é o meu desejo e na medida do possível a minha missão e prazer, pois falar dos Caboclinhos é acreditar na cultura popular, é a manutenção de um ideal, é a concretização de um sonho e um trabalho de fé e dedicação perpetuado pelas crianças (maioria dos envolvidos) e a certeza de que com isso esta festa perdure.
Festa marcante para a minha vida e que tento contagiar amigos e familiares para que a tradição não vá para os livros e registros como apenas fontes para pesquisadores e sim seja vivenciada a cada ano por muitas gerações!
Alexsandro A. Silva Leite
lekoleite@hotmail.com
Montes Claros - MG
(38) 9199-5770