Compromisso coletivo

Jornal O Norte
Publicado em 19/06/2008 às 10:40.Atualizado em 15/11/2021 às 07:36.

Bruno Peron Loureiro


Bacharel em Relações Internacionais pela Unesp - Universidade Estadual Paulista



Às vezes, decido escrever sobre um tema depois de revisar as principais notícias de vários jornais na versão em linha de distintos estados brasileiros e de identificar pontos de discordância e inconsistência. Confesso a angústia que me dá quando vejo que assuntos sobre celebridades e violência predominam nas manchetes e páginas, pois preferiria que os brasileiros fôssemos informados sobre as dicas de saúde, propostas para resolver problemas nas nossas comunidades, os avanços científicos do país, enfim, informação educativa e moralizadora.



A lógica de mercado, no entanto, é outra: os jornais (permitam-me, pois é crítica construtiva) têm que vender, as rádios e a televisão têm que conquistar audiência. Para isso, criou-se um instituto para medi-la que se chama Ibope (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística). Portanto, se o povo não vai até o meio, este vai até o povo. Porém, a necessidade saciada é a de consumo e não necessariamente a de elevar a consciência, a instrução e a moral para um patamar de aprimoramento intelectual. Baterei nesta última tecla quantas vezes for preciso.



Nesta semana, inquietaram-se as notícias sobre dois movimentos sociais atuantes no Brasil – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e Via Campesina – que narram superficialmente os episódios de protesta contra o agronegócio, a defesa da reforma agrária e a intervenção em empresas transnacionais usando termos como “agressão”, “invasão”, “destruição”, “ilegal” e “violência”. É uma seqüência de notícias. Questiono: Se esses movimentos não agirem da maneira como têm feito, alguém se importará com eles?



Reconheço que o caminho da violência traz prejuízos, é mal visto, melhor que fosse prescindível, mas deveríamos prestar atenção no que estão dizendo: o preço dos alimentos sobe, os transgênicos são vendidos sem a inspeção necessária, a concentração de terras continua grande e desnecessária, a contaminação e destruição ambientais seguem incontroláveis. Estes movimentos sociais têm razão. O mínimo que poderíamos fazer é apoiá-los, se não juntarmo-nos a eles.



Esclareço o que estava nebuloso. Estamos diante de dois discursos: um que condena o que está no parágrafo anterior e mobiliza-se em oposição, mas que injustamente é interpretado como agressor, ilegal ou invasor por alguns meios; e outro que se ampara no poder econômico e político que possui a ponto de influenciar os meios de comunicação, tem respaldo legal de suas atividades de expansão canavieira, pesquisa de transgênicos e manutenção de grandes propriedades, por exemplo. Discursos em contraposição.



É difícil dizer que os dois grupos têm argumentos consistentes e válidos, portanto um deles está faltando com o compromisso coletivo, que permite uma sociedade brasileira mais justa. Quero estimular o leitor a reconhecer que os movimentos sociais, de maneira geral, lutam por maior transparência, mostram as contradições no país e são uma das principais vias para buscar a justiça social. Eles se mobilizam. A sociedade colhe os resultados.

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