Compromisso coletivo

Jornal O Norte
Publicado em 17/06/2008 às 10:59.Atualizado em 15/11/2021 às 07:35.

Bruno Peron Loureiro


Bacharel em Relações Internacionais pela UNESP



Às vezes, decido escrever sobre um tema depois de revisar as principais notícias de vários jornais na versão em linha de distintos estados brasileiros e de identificar pontos de discordância e inconsistência. Confesso a angústia que me dá quando vejo que assuntos sobre celebridades e violência predominam nas manchetes e páginas, pois preferiria que os brasileiros fôssemos informados sobre as dicas de saúde, propostas para resolver problemas nas nossas comunidades, os avanços científicos do país, enfim, informação educativa e moralizadora.



A lógica de mercado, no entanto, é outra: os jornais (permitam-me, pois é crítica construtiva) têm que vender, as rádios e a televisão têm que conquistar audiência. Para isso, criou-se um instituto para medi-la que se chama Ibope (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística). Portanto, se o povo não vai até o meio, este vai até o povo. Porém, a necessidade saciada é a de consumo e não necessariamente a de elevar a consciência, a instrução e a moral para um patamar de aprimoramento intelectual. Baterei nesta última tecla quantas vezes for preciso.



Esta semana, inquietaram-se as notícias sobre dois movimentos sociais atuantes no Brasil – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e Via Campesina – que narram superficialmente os episódios de protesta contra o agronegócio, a defesa da reforma agrária e a intervenção em empresas transnacionais usando termos como “agressão”, “invasão”, “destruição”, “ilegal” e “violência”. É uma seqüência de notícias. Questiono: Se esses movimentos não agirem da maneira como têm feito, alguém se importará com eles?



Reconheço que o caminho da violência traz prejuízos, é mal visto, melhor que fosse prescindível, mas deveríamos prestar atenção no que estão dizendo: o preço dos alimentos sobe, os transgênicos são vendidos sem a inspeção necessária, a concentração de terras continua grande e desnecessária, a contaminação e destruição ambientais seguem incontroláveis. Estes movimentos sociais têm razão. O mínimo que poderíamos fazer é apoiá-los, se não juntarmo-nos a eles.



Esclareço o que estava nebuloso. Estamos diante de dois discursos: um que condena o que está no parágrafo anterior e mobiliza-se em oposição, mas que injustamente é interpretado como agressor, ilegal ou invasor por alguns meios; e outro que se ampara no poder econômico e político que possui a ponto de influenciar os meios de comunicação, tem respaldo legal de suas atividades de expansão canavieira, pesquisa de transgênicos e manutenção de grandes propriedades, por exemplo. Discursos em contraposição.



É difícil dizer que os dois grupos têm argumentos consistentes e válidos, portanto um deles está faltando com o compromisso coletivo, que permite uma sociedade brasileira mais justa. Quero estimular o leitor a reconhecer que os movimentos sociais, de maneira geral, lutam por maior transparência, mostram as contradições no país e são uma das principais vias para buscar a justiça social. Eles se mobilizam. A sociedade colhe os resultados.

Compartilhar
Logotipo O NorteLogotipo O Norte
E-MAIL:jornalismo@onorte.net
ENDEREÇO:Rua Justino CâmaraCentro - Montes Claros - MGCEP: 39400-010
O Norte© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por