Clídio de Moura Lima *
Paga-se bem. No mundo dos negócios, interesses de toda sorte, inclusive os escusos e as propostas indecentes, tudo vale. Noutro dia eu assisti ao filme “Proposta indecente”, onde um ricaço paga ao marido para ficar com sua mulher por uma noite; a proposta foi aceita, rolou uma grana alta e em dólares. E o pau quebrou! Tudo bem. Já ouvi falar que todo homem tem seu preço. E vai por aí afora... Deixo a imaginação do leitor percorrer o campo enfocado neste arremedo de crônica.
No momento, sentado no Ribatejo Bar, sorvendo umas cervejas e me embriagando com a maconha da Souza Cruz, cujo defumador fica sempre impregnado na roupa (nem imagine os pulmões) deixando um odor nauseabundo, tive esta atrevida idéia de escrever sobre este tema. A solidão me tornou solitário e se fez acompanhada da tristeza que me deixou realmente triste. Embriagando-me, pude contemplar o vão e passei a escrever. Quanto alguém poderá me cobrar por sua amizade, já que não sou afortunado? Alguns trocados bastariam? Pressinto que uma amizade não pode ser adquirida por preço vil; a mercadoria não seria sequer de segunda classe. Claro, por baixo preço, não posso pensar em uma amizade de primeira classe, nem de macho e tampouco de fêmea. E me veio uma indagação profunda corroendo meu âmago e todas as minhas entranhas: Como chegar diante de alguém e fazer a proposta? Iria, de cara, perguntar, hei! Você quer me vender sua amizade? Ô louco, nem pensar! E se eu ficar, volta e meia, olhando para alguém, para provocar um
diálogo? Não! Esta idéia poderá não ser feliz e nem produzir um diálogo. Poderá a pessoa sentir meu olhar e pensar: Ou é veado ou é tarado, se ele ou ela sentir meu olhar. Vou-“me já”. Na volta pensarei melhor. Continuarei minha crônica no próximo parágrafo, ta bom?
Continuando a crônica e falando com meus botões: se eu colocasse um anúncio no jornal: “Compram-se dois amigos. Paga-se bem”. Oh! Esta idéia poderá ser feliz. Quem sabe, alguém desafortunado de companhia numa mesa de bar, possa ler meu anúncio e “chegar junto”. Cara, eu li seu anúncio no jornal e... Não! Assim também não dará certo. Terei que me expor ao ridículo e ser alvo de zombaria. Aí, com tanta solidão, ninguém para me dar uma idéia de como resolver meu problema de solidão, claro; se eu tivesse uma companhia não precisaria tecer esta crônica alucinada. Parodiando o radialista que anunciava “más idéias no póximo bloco”; direi, mais idéias no próximo parágrafo. Já, já. Vou tomar mais três goles de cerva e baforar o cigarrão terrível. Ainda processo esta Souza Cruz! Ó menino! Volta ao tema. Gritou silenciosamente minha fértil imaginação. Po! Vou reler tudo que escrevi até aqui e parar um pouco para continuar meus goles de cerveja e fumegar o legítimo Charlton na pérgula do boteco. Frescura pura, apenas tam
bém parodiando aquele calunista social cujo nome não revelo.
Idéia final. Pronto, se esta idéia não der certo, encerro esta pomba de qualquer jeito. Sinto que mais poucas cervejas irão me entorpecer e não terei condições cerebrinas de concatenar as idéias, será tudo em vão. Pensei o que mesmo? Tá vendo, tô ficando bêbado. Esqueci. Mais goles de cerveja e cigarro.
Lembrei! Oh! idéia genial. Vou escrever uma crônica e pedir ao meu dileto e predileto amigo Reginauro, diretor e redator-chefe do grande Jornal O Norte que a publique, constando meu e-mail clidiodemoura@yahoo.com.br e assim, o leitor poderá entrar em contato comigo e até me dá de graça a amizade que tanto procuro. E não faço muitas exigências: que me acompanhe na mesa de bar, que tenha um bom fígado, para aquentar os impactos etílicos; uma prosa ao menos tolerável; beleza exigível é a intelectual, porém é aconselhável ser simpático e agradável em todas as ocasiões. Ufa! Terminei a crônica. Estou aguardando você, quer seja macho ou, preferencialmente, fêmea.
* Advogado, escritor e professor universitário