Antônio Augusto Souto
Aqueles dois velhinhos,
meus queridos,
estão casados há sessenta anos.
Parecem inteiros,
estão aprumadinhos,
até faceiros.
Filhos, netos e bisnetos
comemoram o fato
e bancam a festa
para a vida que inda resta.
Aproximo-me deles
e os abraço e beijo,
com afeto verdadeiro:
a ela, antiga dama;
a ele, provecto cavalheiro.
Olho-os de longe:
estão bem enfarpelados
e sorriem o tempo todo,
mas sinto-os incomodados
pela roupa nova,
pelo burburinho,
pela música,
pelo uísque,
pelo vinho,
pelas crianças que correm,
pela fila dos cumprimentos...
Olho-os de longe e penso:
para meus doces queridos,
o jogo acabou, faz muito.
Primeiro tempo,
segundo tempo e acréscimos,
prorrogação com citrato
de sildenafil...
É sem festa
o tempo que inda resta.