Dário Cotrim

Tocaia dos Bugres

14/11/2018 às 06:09.
Atualizado em 28/10/2021 às 01:49

O tiroteio de 6 de fevereiro de 1930, em Montes Claros, envolvendo os militantes da caravana dos Conservadores contra os da Aliança Liberal, precede o movimento político que veio pôr abaixo a Primeira República ou Velha República. Era a Revolução de 1930 que se iniciava em Montes Claros. Contudo, registra-se nos anais da história que esse movimento irrompeu em 3 de outubro e terminou no dia 24 do mesmo mês, com a deposição do presidente Washington Luiz Pereira de Souza e a dissolução da representação popular no Congresso Nacional. Em matéria no jornal, disse o jornalista Assis Chateaubriand que “Montes Claros fixa no momento culminante da consciência brasileira”.

Por isso podemos afirmar que Montes Claros foi palco do primeiro episódio que antecedeu a Revolução de 30. As ruas foram invadidas por pessoas oriundas de Granjas Reunidas e da capital do Estado que vieram fazer frente aos inimigos políticos do vice-presidente da República Dr. Fernando de Melo Viana. Tudo isso aconteceu durante a visita de Melo Viana ao Congresso de Algodão e Cereais, em Montes Claros, evento elaborado com o intuito de fazer propaganda eleitoral em favor da candidatura de Júlio Prestes para presidente da República, quebrando, assim, a tradição da Política do Café com Leite.

A política fervilhava mediante a paixão e o desejo de os militantes da Aliança Liberal defenderem a integridade física do representante maior, Dr. João José Alves.

Nesta época Montes Claros dividia a política em duas facções: o Partido de Cima, apoiado pela Aliança Liberal e chefiado por Honorato José Alves, e o Partido de Baixo, dos Conservadores e e liderado pelo deputado Camilo Filinto Prates.     Naquela noite, da Estação Ferroviária, a comitiva descia para a região baixa da cidade, quando, ao passar em frente da casa do Dr. João Alves, tiros de carabinas abafaram os gritos de “Viva a Aliança Liberal!” Na ocorrência policial esses gritos foram dados pelo menino Austílio Benjarane Tecles, que tinha o apelido de Fifi, onde estaria a causa do tiroteio. Depois do cessar-fogo foram contabilizadas as mortes de José Antônio da Conceição, poeta João Soares da Silva, Rafael Fleury da Rocha, dona Iracy de Oliveira Novaes, Moacyr Dolabela Portela e o menino o Fifi, “que era tão nosso amigo”, segundo palavras e dona Tiburtina Andrade Alves que, ao longo dos tempos, fora injustamente acusada de ser a responsável pelos graves acontecimentos

O tiroteio teve repercussão nacional. O presidente Washington Luiz, preconceituosamente, deu-lhe o nome de Tocaia dos Bugres, tachando assim o povo de Montes Claros de gente semi-civilizada. O castigo veio a cavalo. Washington Luiz foi deposto e Getúlio Vargas assume o poder que duraria uma década e meia.

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