A cidade de Montes Claros ficou em completo luto quando morreu o ilustre cônego Adherbal Murta de Almeida. Isso aconteceu no dia 08 de março de 2008. Naquela época, os seus companheiros e confrades do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, consternados com o ocorrido, lembravam dos momentos inesquecíveis e, também, memoráveis de suas lutas em favor da história de nossa terra. O saudoso confrade deixou um vazio enorme nas nossas reuniões, enquanto isso, na câmara ardente, os seus amigos, profundamente feridos, preferiram ficar em oração diante de seu corpo inerte e em pleno silêncio. É, assim, porque, a sepultura é o berço mudo de onde as almas sobem, e sobem em silêncio para a morada eterna.
Hoje, as lembranças do nosso saudoso associado Adherbal Murta nos machucam com padecimento e dor.
É o silêncio da dor que a própria dor nos impõe. É o silêncio frio, calculista e que machuca os nossos corações na calada das câmaras ardentes. Se a cruel realidade não fosse tão irrecusável, diríamos que não era o seu corpo que repousava ali, imobilizado, naquele esquife fúnebre e frio, todo envolvido em meio às inebriantes flores do campo. Diríamos mais, não houvera morte alguma naquela hora, em definitivo, apenas uma mudança de endereço: daqui para a morada do Pai eterno. Quiçá a sua presença no céu seria mais interessante e muito mais necessária do que aqui na terra! Afinal, tê-lo sempre por perto haveria de ser um lenitivo muito necessário para as nossas angústias que, maldosamente envolvem a alma de todos nós pobres pecadores.
Por isso, quando chorarmos a morte do saudoso cônego Murta de Almeida, fizemos com a emoção de quem perdia um verdadeiro amigo, um dos mais eruditos homens na história literária da nossa querida cidade de Montes Claros.
O cônego Adherbal Murta de Almeida, não foi, dos que poderiam recolher-se pela avançada idade à uma vida claustral. Era exatamente o contrário, ele participava com entusiasmo e alegria de todas as atividades literárias e religiosas da nossa comunidade cristã. Era uma presença esperada, festejada, sempre. Ele acreditava que a vida e a morte se resumiam apenas num mesmo sonho: o sonho do homem em estado estertor e maravilhado com o alvorecer de um novo dia. Ai, Morrer! Morrer ás vezes torna-se uma coisa bonita e fica a impressão de que a morte não existe. O melhor mesmo é nunca se esquecer de que, além da morte, há uma esperança num facho de luz para o descanso eterno.
Melhor dizendo: infelizmente o cônego Murta de Almeida morreu, sim, senhor. E podemos até afirmar categoricamente que a sua morte, para nós, foi muito cruel. A propósito, a morte não só o retirou fisicamente do nosso convívio, como também aniquilou um século de história em prosa filosófica e em poesia relativamente lógica. Mas, espiritualmente a sua presença será perene e eterna, assim como o archote luminoso da incessante esperança.
No Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros teve a honra de tê-lo como nosso associado e fundador da Cadeira 99, que tem como patrono Waldemar Versiani dos Anjos. Com o mesmo pesar com que assomo a esta crônica para lembrar-lhe de sua pessoa entre nós, agora passados quase quinze anos a sua memória continua a nos conduzir para o caminho do conhecimento.
Não obstante a clarividência da morte, ainda o temos vivo entre nós! Porque o seu espírito dinâmico e as suas palavras ponderadas, seguras e firmes, espelhavam muito bem a simplicidade cativante do seu coração generoso. O escritor Felix Pacheco, na sua obra “Janela Dourada” disse que “o alicerce do mundo está nas lousas” e, em razão disso, o seu nome consta da página “Associados Falecidos” da nossa Recista junto com aqueles que também souberam servir e dignificar a terra em que nasceram.