A esplêndida literatura brasileira, quase desconhecida, nos brinda com o romance de Ceci e Peri, uma história de amor elaborada magistralmente por José de Alencar, na sua influente obra “O Guarani”, e, que, ainda hoje nos encanta. Cecília, ou simplesmente Ceci – uma linda jovem, adolescente, filha do fidalgo português dom Antônio de Mariz, um dos fundadores da cidade do Rio de Janeiro, em 1565, na companhia de Estácio de Sá – foi a personagem protagonista da envolvente história de amor com o índio Peri. E, Peri, por sua vez, também personagem protagonista da mesma história, era de família nobre na sua linhagem das selvas, filho do grande chefe Acaré, cacique de sua tribo.
A história se passou no interior do Rio de Janeiro, na casa grande da fazenda Paquequer, no século XVII, onde residia o casal: Antônio Mariz e sua esposa Lauriana. O cenário não poderia ser mais bonito, onde o rio Paquequer, como um dos confluentes do rio Paraíba, embelezava as várzeas cobertas de palmeiras, colorindo-as com uma paisagem verdejante no frescor da natureza.
Entretanto, no decorrer da narrativa, um fato inesperado aconteceu na casa grande da fazenda. Uma explosão no depósito de pólvora causando um incêndio que consumia a residência impiedosamente. Peri foi solicitado para salvar Ceci com a aprovação de dom Antônio, mas para que isso fosse possível era preciso que ele se tornasse um cristão, abdicando de sua fé religiosa de seus antepassados. E assim foi feito, quando Peri foge com Ceci para o desconhecido mundo das tormentas em busca da salvação.
Conta-nos, ainda, José de Alencar, da bravura do jovem índio. Depois de livrar-se do fogo, lhe sobreviriam pela frente, incessantemente, os perigos das selvas. Como se não bastasse tudo isso, o tempo profetizava uma tempestade jamais imaginada. E as águas começaram a precipitar-se. De torrente em torrente, formando trombas e mais trombas d’águas, gigantescas, inundando a ampla várzea por completo.
Peri se vê em perigo. Era preciso fazer alguma coisa, pois Cecília estava quase coberta pela fúria implacável das aguas. Num relance de tempo miúdo, o jovem índio lembra-se da lenda indígena de Tamandaré, que, “num dilúvio em que todos morreram, ouvira a voz de Deus e subira com a sua mulher numa palmeira, e de seus frutos se alimentaram, e a água cavou a terra e levou a palmeira para o alto. As águas subiram até o céu, três sóis e três noites. Depois que baixaram, Tamandaré desceu com a companheira e povoou a terra”.
As histórias de amor, de outrora, serviram de espelho para os jovens apaixonados dos tempos modernos. Entre esses contos e amor podemos citar o clássico Romeu & Julieta, de William Shakespeare, Catherine & Heathcliff, de Emily Bronte, em O Morro dos Ventos Uivantes, Eugênio & Margarida, de Bernardo Guimarães, do livro O Seminarista e Oliver & Jennifer em uma história de amor escrita por Erich Segal. Os amantes, Peri & Ceci, vivem até hoje e não há dúvida de que eles viverão para sempre, e sempre, na memória do povo brasileiro, através das páginas iluminadas do livro “O Guarani” de José de Alencar.