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Domingo,24 de Novembro
Dário Cotrim

‘O Enfermeiro”

07/11/2018 às 06:38.
Atualizado em 28/10/2021 às 01:38

Foi apresentada na Sala Cândido Canela, do Centro Cultural Hermes de Paula, pelos atores Diógenes Câmara e Eduardo Brasil, a peça “O Enfermeiro”, obra adaptada de um dos contos do ilustre escritor Machado de Assis, o mestre da língua portuguesa. O conto é uma narrativa cênica do enfermeiro Procópio Valongo, que era visto na sociedade como uma pessoa de alma boa e que suportava todas as bravuras dos anciãos, versus o coronel Felisberto de Assis, a quem todos conheciam como sendo um homem exigente e insuportável e que nenhum enfermeiro conseguia ficar muito tempo cuidando dele. Entretanto, mesmo sabendo de todas essas esquisitices do coronel, o enfermeiro Procópio aceitou o convite do padre para a impossível missão.

O dialogo desenvolvido no palco, por Diógenes e Brasil, teve a atenção maciça dos espectadores. Houve momentos de risos, até porque não pode faltar a graça nem a fantasia, onde a plateia se empanturra de tanto rir. Por outro lado, as injúrias do coronel com o seu cuidador, com xingamentos e humilhações, sempre terminavam em pedidos de desculpas, pois não era necessário levar em conta as rabugices de um velho doente e só por isso ele resolveu ficar na sua guarda sem mesmo saber que haveria uma herança para si no testamento do coronel.

Nota-se que, com o passar do tempo, a saúde do coronel se agrava mais e mais, e “na noite de 24 de agosto, o coronel teve um acesso de raiva, atropelou-me, disse-me muito nome cru, ameaçou-me de um tiro, e acabou atirando-me um prato de mingau, que achou frio, o prato foi cair na parede onde se fez em pedaços.” À vista deste relato, Procópio não aguentando mais as agressões físicas do coronel, parte pra cima dele para esganá-lo. Mas, não foi preciso, pois o coronel já estava morto.

Logo disse o enfermeiro Procópio arrependido que “quando percebi que o doente expirava, recuei aterrado, e dei um grito; mas ninguém me ouviu. Voltei à cama, agitei-o para chamá-lo à vida, era tarde; arrebentara o aneurisma, e o coronel morreu”. Isto posto pergunta-se: se houve ali um assassinato?

Esse conto tem no seu final a oportunidade de uma reflexão: quem seria o bom e quem seria o mau neste contexto? Se o coronel que tinha um gênio violento e cruel, mas que deixou uma herança para o seu cuidador, ou do enfermeiro que todos o elogiavam de sua benevolência, mas que seria in/capaz de cometer um assassinato? Nesse caso, os atores Diógenes Câmara e Eduardo Brasil nos oferecem essa pérola literária de Machado de Assis, como entretenimento para os dias de turbulências que afetam a sociedade em que vivemos.

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