Dário Cotrim

Nondas do acordeom

Publicado em 09/06/2023 às 20:00.

Agora, quem se despede de nós é o amigo de nossa família, o sanfoneiro Epaminondas Manoel dos Santos, ou simplesmente seu Nondas, como ele gostava de ser chamado. Quando conheci o Nondas, eu ainda era menino de calças curtas e de pés no chão. A nossa amizade nasceu e foi solidificando através do tempo, em vista de sua participação musical no Pindoba-bar (Guanambi – Bahia), principalmente na década de sessenta. Nondas era o dono do conjunto musical NPR-5 (Nondas, Paulo e Renato Preto). Ainda participavam do mesmo conjunto os músicos: Nonoza, Domingos Neto, Erivan, Paulo Tito e tantos outros que sucederam pela banda com o passar dos anos. 

Ah, como bem me lembro de uma viagem que fizemos juntos, de Guanambi para a cidade de Palmas de Montes Alto. Neste dia, quando à tardinha, quase chegando no nosso destino, o carro que nos levava teve um de seus pneus furado. Inconsolado e impotente, eu fiquei escorado numa enorme pedra à beira da estrada sem nada poder fazer. Entretanto tudo foi resolvido e chegamos a tempo e na hora exata de começar a festança.

Lembro-me quando eu estava desempregado e necessitava de um trabalho que pudesse me ajudar nos meus afazeres domésticos. O Nondas me convidou para que eu fosse trabalhar com ele como ajudante de pedreiro. Inicialmente ajudei-lhe na demolição de uma velha casa na rua dos Expedicionários e, depois, fazendo massa de cimento e carregando tijolos numa reforma programada na casa do Sr. Natalino, que ficava nesta mesma rua. Neste interim, eu recebia o comunicado pelo meu padrinho Juvenal de que havia sido aprovado no concurso do Banco do Brasil e o Nondas, em tom de brincadeira, me desse assim: “Quando você estiver lá no Banco não vai lembrar mais de nós”. Aliás, eu nunca me esqueci do amigo e sempre lhe fazia uma visita na sua residência, não perdendo a oportunidade de saborear um pirulito que a viúva, dona Délia de Castro Costa Santos, fazia e ainda faz com muito carinho.

Assim disse o meu primo Braz Alves de Sá sobre Nondas: “Meu amigo Nondas! Meu amigo e conterrâneo Epaminondas Manoel dos Santos, animador de festas e festeiro de primeira linha, aprendeu tocar acordeom com seu pai Nezim, numa diatônica de 8 baixos, o famoso pé de bode. Nesse instrumento “tirou” seus primeiros acordes e desde então tornou-se um representante maior de nossas tradições musicais e cristãs. Na Igreja de Nossa Senhora do Rosário, dos Pretos, no saudoso Gentio, nossa amada terra natal, ele começou sua caminhada acompanhando seu pai nas festas, durante as “missões religiosas” que adentravam nossa terra oriundas da Diocese de Caetité. Já em Guanambi, trabalhando na construção civil, aumentou ainda mais seu amor pela música regional e tradicional, desenvolvendo seu conhecimento sobre o tema e contribuindo para grandeza musical de Guanambi e região, como sanfoneiro de 120 baixos e organista. E como tal, criou ao lado de Paulo e Renato o conjunto NPR-5, um dos primeiros de nossa cidade. O primeiro foi criado por Toe de Milton, acordeonista de primeira e amante do tradicional acordeon Paolo Soprani. O NPR-5 acompanhou diversos artistas consagrados que aqui se apresentaram no saudoso Cine Sorbonne. Nondas cultivava amizades como ninguém, tinha um dom todo especial nesse mister. Pessoa de grande caráter e personalidade forte. Ontem, 15 de maio de 2023, fiquei sabendo da sua morte; me entristeceu muito sua partida, e a vida segue em frente. Descanse em Paz meu amigo” 

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