Com a criação do espaço da Antropologia e da Etnologia do Norte de Minas pelo Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, numa justa homenagem ao saudoso associado Leonardo Álvares da Silva Campos, torna-se, agora, o nosso museu uma comovente realidade. Em vista disso, será necessário o estudo dos documentos existentes em nossos arquivos sobre a colonização já a partir do século XVII. Para tanto, necessário se faz, também, uma investigação através da paleografia, dos apontamentos deixados pelos amanuenses dos “Cartórios de Registro Civil” e pelo clero nos “Livros do Tombo” das igrejas católicas de todo o território do Norte de Minas. Uma curiosidade interessante: percebe-se que é na escrita uncial que se começa a observar a influência da escrita cursiva.
Constata-se, ainda, que a arte rupestre dos nossos antepassados, nas inscrições (escrita) ou nas sinalações (desenhos/sinais), cravada nas rochas das cavernas, também faz parte dos estudos da paleografia, sem prejuízo para os documentos impressos em folhas de papiro, como se usava no Egito antigo. Entretanto, no Brasil, era comum os registros contábeis dos escravos no couro curtido ou no pergaminho, bem no início da colonização brasileira pelos bandeirantes paulistas que se aventuravam em terras norte-mineiras.
Paleografia é o estudo de textos manuscritos antigos e medievais, independentemente da língua veicular do documento e, por extensão de sentido, a forma e a evolução dessa escrita, independentemente do tipo de suporte físico onde foi registrada, do material utilizado para proceder ao registro do lugar onde foi utilizada, do povo que a utilizou e dos sinais gráficos que adotou para exprimir a linguagem.
O Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros tem hoje um conjunto de documentos antigos que versa sobre variados fatos da nossa história: casamentos, óbitos, nascimentos, inventários, partilhas, contratos, escrituras e outros. Na visão do ilustre historiador Afonso E. Taunay e do genealogista Carlos da Silveira, as escritas cursivas, ou manuscritos, referentes aos documentos históricos do continente americano, são de fácil entendimento e que, em razão disso, não merecem ser incluídos com a denominação de “Paleografia Brasileira”.
Mas, por outro lado, há os que pensam diferente e ainda afirmam, categoricamente, que esses velhos documentos, pelos traços amarelados do papel e ou pelo descoramento das tintas, são iguais àqueles encontrados no continente europeu. Talvez a grande diferença seja a riqueza das informações cartoriais e os detalhes das inculcas, haja vista que a nossa região pouco oferece para a história mineira, se comparada com os arquivos existentes no Distrito Diamantino.
Mesmo assim, o historiador Simeão Ribeiro Pires conseguiu um arquivo valioso acerca de São José do Gorutuba. Foram cópias de documentos que estavam guardados em Grão Mogol as que lhe permitiu escrever o influente livro “Gorutuba: o padre e a bala de ouro”. Também, o eminente cônego Newton Caetano de Angelis utilizou de vários documentos antigos para a composição do seu brilhante livro “Efemérides Rio-pardenses”.
No presente momento, a procura por documentos antigos pelos estudantes e professores da Unimontes atesta a evolução das pesquisas realizadas no resgate e na preservação da nossa história. Neste ensejo, o Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros tem demonstrado uma preocupação generalizada na ausência de fatos comprobatórios para as elucidações e as interpretações das narrativas históricas de Montes Claros.
Com as noções da paleografia, pode-se dizer que o caminho agora torna-se mais coerente nas teses sobre a resenha de nossa terra, uma vez que a leitura de documentos antigos é que deriva a nossa História.