Dário Cotrim

Canhão de guerra

05/02/2022 às 00:01.
Atualizado em 06/02/2022 às 10:14

A história é uma ciência fascinante em todos os sentidos. Ela nos proporciona entretenimentos e o conhecimento do antes sem prejuízo para os projetos do amanhã. Nota-se que nela a pesquisa e a garimpagem nos arquivos e nas gavetas são ferramentas indispensáveis para a construção das narrativas pertinentes aos fatos desejados pelo historiador. É preciso muita paciência, determinação, abelhudice e discernimento nas buscas das preciosas raridades contidas nos velhos baús e nas prateleiras empoeiradas das bibliotecas e dos raros arquivos públicos. A história é um segmento do conhecimento repleto de controvérsias. Estudar e pesquisar são, entre outras coisas, as palavras de ordem para uma boa e proveitosa construção histórica. 

Sendo assim, este introito se torna necessário para que possamos explicar, com segurança, as indagações que temos recebido a respeito do canhão de guerra que foi doado para o Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros pela família do dr. Simeão Ribeiro Pires. Qual é a origem dessa peça do nosso antiquário? O que disse o dr. Simeão Ribeiro Pires e o que disse José Geraldo de Mendonça a respeito dela? Para que possamos dirimir essas dúvidas, devemos, antes de mais nada, ir aos fatos documentados nos livros: “Raízes de Minas”, de Simeão Ribeiro Pires, e “Grão Mogol”, do dr. Jorge Lasmar e da saudosa historiadora Terezinha Vasques. 

O historiador José Geraldo de Mendonça, em informação direcionada ao nosso confrade dr. Jorge Lasmar, do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, disse-lhe que o canhão de guerra de posse do dr. Simeão Ribeiro Pires foi encontrado na gruta do “Quebra Coco”, em Grão Mogol. 

Nessa mesma linha de raciocínio, o historiador Manuel Esteves, no seu livro “Grão Mogol”, assevera que a gruta aqui citada fica a 12 quilômetros da cidade de Grão Mogol e “rezam as tradições locais que ela (a gruta de Quebra Coco) encerra, escondida em um dos seus recantos, valiosíssimo tesouro, representado por uma coleção de diamantes do mais subido valor”. 

No livro “Grão Mogol”, de Jorge Lasmar e Terezinha Vasques, página 50, nós encontramos a seguinte afirmativa sobre o que nos interessa: “desta gruta, o historiador (José Geraldo Mendonça) trouxe um canhão que foi doado a Simeão Ribeiro Pires, ilustre cidadão de Montes Claros, autor do excelente livro ‘Raízes de Minas’”.

Pois bem, nos escritos do doutor Simeão Ribeiro Pires não há nenhum registro sobre a doação do referido canhão pelo senhor José Geraldo Mendonça. Mas, por outro lado, no seu livro “Raízes de Minas”, página 37, está ali identificado como sendo o “Canhão – vindo de Penedo, das lutas contra os holandeses, que foi artilhado pelo façanhudo NECO, nas barrancas do baixo São Francisco, pelos idos de 1879”. Não obstante encontrarmos, nas palavras do confrade dr. Jorge Lasmar, crédito sobre as anotações de José Geraldo Mendonça, em relação ao canhão vale-nos dizer que entendemos de forma totalmente diferenciada. 

Há uma possibilidade de que Francisco Sabino Vieira, que terminou os seus dias numa fazenda em Jacobina, no sertão de Canudos, deve ter levado este canhão até a cidade de Penedo (Alagoas). Isso deve ter acontecido tempos depois da invasão dos holandeses no nordeste brasileiro. O assunto não se esgota aqui. Teremos que pesquisar muito para que possamos entender melhor e com mais clareza o aparecimento deste canhão no Norte de Minas.

Agora, com o espaço destinado ao museu da Arqueologia e da Etnologia Leonardo Álvares da Silva Campos, no Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, o montes-clarense tem a oportunidade de conhecer mais um pouco de suas origens. Vamos conhecer o nosso IHGMC?

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