Conclui com extremo regozijo a leitura do interessante livro “Cabeça-Torta”, um romance de Nelson de Faria, editado pela José Olympio Editora, que fala das coisas do sertão baiano e muito mais do cerrado Norte Mineiro. Fala-nos o autor, com muita propriedade, sobre as viagens dos tropeiros pelas estradas íngremes da Chapada Diamantina com destino ao recôncavo baiano e, vez por outra, passando pela zona cacaueira de Ilhéus. Nelson de Faria era natural do arraial de Fortaleza, hoje município de Pedra Azul, quando ali nasceu, em abril de 1902. Filho de Pacífico Soares de Faria e dona Ana Secunda de Figueiredo Faria. Nelson de Faria, quando criança, residiu na cidade de Grão Mogol, juntamente com seu irmão Clemente de Faria.
O belíssimo romance “Cabeça-Torta” tem linguagem simples e é de fácil compreensão. É explorada nele a maneira de falar, agir e fazer do povo campesino. São palavras com gosto e cheiro de terra. De terra molhada em tempos de chuva miúda. Aqui, o autor nos conta a história de Belarmino, que mandou seus filhos, Juvenal e Corina, para estudarem em Montes Claros. Nota-se que a riqueza de detalhes só foi possível porque o Vale do Jequitinhonha é uma região pobre financeiramente, mas rica culturalmente, nas tradições e nos costumes do seu povo. Portanto, o romance “Cabeça-Torta” tem esse objetivo, de resgatar as histórias dos primeiros colonizadores, mineradores e condutores das tropas de mulas pelos diversos lugares do Norte de Minas e da Bahia.
As contendas, principalmente as das políticas, eram condimentos no dia a dia do povo que trabalhava no campo. O último desejo de Maria Filomena, quando no leito de morte, foi minuciosamente escrito, com a preocupação de traduzir o sentimento de Juvenal e Corina perante os familiares. Era costume enterrar os adultos no cemitério da cidade, levando o corpo numa rede de balangar. Maria Filomena não. Ela seria enterrada no cemitério dos anjinhos. Eram os pequenos cemitérios que ficavam no terreiro da fazenda. Portanto, aí está mais um livro sobre as nossas tradições e os nossos costumes: “Cabeça-Torta”, de Nelson de Faria.