Este é o Archote da Verdade, o livro de belos poemas do saudoso poeta Orlando Ferreira Lima. Não sei a data precisa, mas o ano era o de 68, quando o poeta conversava animadamente com o meu tio-patrão Isaias Manoel Cotrim, no balcão do seu Armazém Itapuã, com alguns livros a tiracolo, o que me chamou muito a atenção. Ora, curioso como sempre fui, eu quis saber que livros eram aqueles e do que se tratava. Incontinente, perguntei-lhe interrompendo-o do amistoso bate-papo com o meu tio-patrão, mostrando-lhe o meu interesse por livros ainda na minha verde idade. O poeta surpreso, elegantemente, presenteou-me com um exemplar de sua obra. Era o livro Archote da Verdade. Entretanto, não imaginava, naquele ditoso momento, que um dia estaria fazendo parte de sua plêiade de acadêmicos. Pois o autor era membro efetivo da augusta Academia Montes-clarense de Letras.
De posse, li e reli várias vezes o seu livro de poesia. Foi assim porque a poesia de Orlando a gente lê sempre e tem sempre vontade de ler outra vez. O mais fantástico neste livro é o amor que o poeta nutria pela cidade de Montes Claros. Pode-se afirmar que, quarenta e poucos anos depois, esse amor incontido nos seus versos que tiveram a análise de seus confrades, e ainda hoje soam como uma declaração de amor. Como sabemos, o poeta Orlando era natural da cidade baiana de Caravelas e já residia por aqui há alguns anos. Em nossas raízes – pois sou baiano também – está depositada tudo o que nos traz lembranças. Por essa razão entendemos que os poemas de Archote da Verdade foram escritos muito mais para o coração do que para os olhos. Ora, esse sentimento do amor pátrio é que, de começo, se pode notar na sua poesia.
Desta vez, fazendo uma leitura mais minuciosa de sua produção literária, notamos que a poesia do acadêmico Orlando Ferreira Lima é a expressão telúrica do meio ambiente em que ele sempre viveu. Ao afirmar-se que tenha nascido numa terra bem distante ele provoca a sua bela ‘Caravelas’ em doces recordações. Mas, por outro lado, no seu poema “Ode ao centenário de Montes Claros” afirmava que aqui era a verdadeira senda da grandeza: “Dos escombros de uma era tenebrosa/ vai surgir a nova Montes Claros/ não há força que impeça esta radiosa/ resolução de homens tão preclaros...” (Metamorfose - 1967).
Nada mais justo do que transcrever para cá as impressões dos apresentadores da obra de Orlando. Por que assim? Porque assim será preciso, haja vista a qualidade literária inquestionável dos prefaciadores: Cândido Canela por sua vez disse-nos que Orlando “é esse poeta que, em poucas páginas, consegue sensibilizar o leitor, ante a vibração de sua poesia, ora brusca, ora bárbara até, ora lírica e provocante”. Por outro lado, o cônego Joaquim Macedo abria caminho, portas e passagens em tudo: “aproveitem os leitores estas folhas d’oiro, archotes a esparzirem luz para que se encontre a verdade, quando trevas ofuscam a inteligência”. Finalizando a tríade antelóquio do livro Archote da Verdade, o acadêmico João Valle Maurício limitava-se a dizer: “aqui está o livro de poesia de Orlando Ferreira Lima. Percorri, calma e atentamente, suas páginas, pensadamente, silenciosamente, e emocionou-me profundamente”.
O poeta Orlando Ferreira Lima nasceu em Caravelas - Bahia. Era filho de Teotônio Ferreira Lima e de dona Leopoldina Matos Lima. Seu nascimento data do dia primeiro de novembro de 1915. Ele era sócio fundador da Academia Montes-clarense de Letras e ocupava a Cadeira N. 9 que tem como patrono o baiano de Macaúbas, doutor Urbino de Souza Vianna. Ainda no campo das coincidências, a escritora Zoraide Guerra David, que é baiana de Mortugaba, é a atual ocupante desta cadeira. Para os poemas de Archote da verdade uma fantasia-poética é certa, mas que se impõe a nós com tamanha força de sentimento que os leitores com ela sonham e para ela vivem.