Dário Cotrim

A Mensageira das Violetas

29/10/2020 às 00:01.
Atualizado em 27/10/2021 às 04:54

O belo livro “A Mensageira das Violetas”, da saudosa poetisa portuguesa Florbela d’Alma da Conceição Espanca (1894 – 1930), é composto de mais de uma centena de sonetos, a poesia clássica que o velho mundo sempre cultuou nas suas lides literárias. L&PM POCKET, responsável pelas notas explicativas e dos comentários, realizou um excelente trabalho gráfico, onde valorizou a ilustração de capa, o nu couché do artista plástico Ivan Pinheiro Machado (1865).

Flor Espanca, que foi “ignorada pela conceituosa crítica do século, é considerada hoje em dia a mais sublime voz feminina da poesia portuguesa de todos os tempos. Seus sonetos são um ousado diário íntimo, onde palpitam as ânsias de uma mulher ardente, a clamar pelas carícias de um amor impossível. O caudal dessa insatisfação veio desembocar na trágica madrugada de seu trigésimo sexto aniversário, quando a beça a carnal alentejana se calou para sempre, após uma dose excessiva de Veronal”. 

O livro tem o formato de bolso que é muito utilizado no mundo moderno. Frequentemente, a simplicidade da obra confunde-se com simplismo e, assim como na pintura, a tradição bizantina carrega as tintas em duas dimensões distintas, rechaçando propositadamente as sutilezas do Renascimento. Na literatura, Florbela Espanca faz o gênero literário de maneira igual, usando as palavras no lidar com o colorido das tintas.

O soneto é o poema clássico admirado por todos os poetas, desde o renascimento até a fase final do parnasianismo. Infelizmente, os novos poetas não procuram divulgar essa forma literária nos tempos de hoje. A liberdade poética, não a de pensamento, faz com que os poetas, a exemplo de Florbela Espanca, sejam esquecidos no mundo literário da contemporaneidade. Por isso, livros de sonetos já não traduzem especificamente o “ser poeta” para o mundo literário do momento presente. Embora não se pode discutir com as vaidades das letras, o soneto continua sendo a menina dos olhos de todos aqueles que prezam, carinhosamente, de uma boa leitura.

Vinicius de Morais demonstrou isso na sua belíssima produção literária com a inclusão de vários sonetos. Por outro lado, um único soneto bastou para Machado de Assis pudesse imortalizar a sua Carolina.

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