Um cristão piedoso jamais aceitará receber qualquer benefício por meios ilícitos. Favorecimentos, elogios ou presentes que nos são dados com objetivos sombrios – segundas intenções – são detestáveis ao Senhor.
A palavra “corrupção” deriva do latim “corruptio/onis”. A ideia que ela carrega é de romper com algo (cum e rumpo), quebrar completamente algo, destruir o todo, fazer desmoronar as estruturas por meio da destruição dos fundamentos. Representa, portanto, o desgaste intencional ou a degeneração das estruturas estabelecidas, tanto espirituais quanto físicas. Uma vez que os fundamentos são destruídos, não restará mais nada: “Ora, destruídos os fundamentos, que poderá fazer o justo?” (Sl 11.3).
O filósofo José Antônio Martins, em seu livro “Corrupção”, oferece um típico exemplo de corrupção no cenário político brasileiro: “Uma pessoa pobre procura um vereador na sua cidadezinha para que este lhe compre um remédio do qual ela precisa. O vereador compra o remédio com o seu salário de vereador e o dá a essa pessoa exigindo tão-somente que ela vote nas próximas eleições. Esse eleitor agradecido não apenas vota no vereador como também pede para muitas outras pessoas votarem nesse homem público ‘bom’ que a ajudou num momento de grande necessidade”.
A corrupção apenas se materializa em ações externas, mas ela está profundamente enraizada no coração do homem. As Escrituras enumeram diversas situações de corrupção: a) suborno (Êx 28.8); b) pagamento de propina (Lc 3.12-13); c) preços abusivos (Pv 11.1); d) dois pesos e duas medidas (Dt 25.13-16); e) leis injustas (Sl 82.2-5); f) políticos e juízes injustos (Is 10.1-2); g) sociedade corrompida (Mq 7.2-3); h) opressão (Os 12.7).
Os crentes, regenerados pelo Espírito Santo de Cristo, devem fugir de todo tipo de corrupção. Devemos lutar, diariamente, contra qualquer corrupção, especialmente aquela que o nosso próprio coração produz.
O escritor dos Provérbios nos alerta para um tipo de corrupção comum: o acúmulo de riquezas por meios ilegais e, portanto, injustos. Ele afirma que “os tesouros da impiedade de nada aproveitam, mas a justiça livra da morte” (Pv 10.2). Tudo aquilo que se origina na impiedade e que, pela cobiça de nossos corações, acumulamos – sejam conselhos de ímpios, conceitos anticristãos ou bens materiais inúteis – nos levará para a morte.
Foi essa a interpretação de Jesus Cristo ao direcionar a seguinte pergunta a um homem: “Louco, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será? Assim é o que entesoura para si mesmo e não é rico para com Deus” (Lc 12.20-21). Riquezas não nos levam para o céu. Muito menos aquelas que são acumuladas por meio de fraudes.
Um cristão piedoso jamais aceitará receber qualquer benefício por meios ilícitos. Favorecimentos, elogios ou presentes que nos são dados com objetivos sombrios – segundas intenções – são detestáveis ao Senhor. Não pagar o que é devido a alguém ou tentar levar vantagem em alguma negociação são considerados pecados contra a Lei do Senhor. Acumular bens neste mundo que não sejam necessários também pode ser pecaminoso. A tentativa de fazer aqui a nossa casa, sendo compulsivos no comprar coisas desnecessárias ou ajuntando objetos que não nos servem, podem também ser pecados contra o Senhor.
Devemos ficar atentos quanto a o quê e o porquê desejamos. Sempre que formos comprar alguma coisa ou resistir em descartá-la, devemos perguntar: “Não estou atribuindo valor excessivo a isso? Vale a pena pagar essa quantia por isso? Não estou tentando transformá-la em um ídolo?”. Nosso coração é enganoso. E uma das táticas de nosso coração para nos desviar do Senhor é nos prendendo às coisas deste mundo como se não houvesse uma eternidade para ser vivida.
Por isso, as riquezas são tão perigosas, porque elas nos levam a imaginar que nossa segurança e o objetivo final de nossa vida estão neste mundo. Não furtemos do Senhor o que lhe é devido.
Soli Deo Gloria!
