Jesus Cristo é representado e se torna visível no mundo por meio de dois holofotes: o primeiro, de modo interno e invisível, mas não imperceptível, é o seu Espírito Santo, que testemunha a verdade divina nos corações e nas consciências dos homens, testificando em favor da salvação promovida por Cristo ou comunicando a condenação pela rejeição à sua Palavra; e o segundo, de modo exterior e visível, é a sua igreja.
A igreja cristã é, de acordo com o apóstolo Paulo, “a plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas” (Ef 2.23). Por “plenitude” (p????µa – pleroma), Paulo quis se referir à completude da pessoa e do ministério de Cristo, a tudo aquilo que está inserido na coleção de sua pessoa e obra e no conjunto de tudo o que ele fez. A igreja é a plenitude, porque nela o Senhor exerce o seu reinado completo e é por meio dela que ele espalha ao mundo seu evangelho.
A igreja cristã é “a residência ou o lugar terreno da habitação do Espírito”, e a ela é dado o poder de significar o corpo de Cristo e ser testemunha de sua pessoa e de toda sua obra. Sem a igreja, muito do que está escrito na Palavra de Deus seria ininteligível ao mundo. O corpo de Cristo, por meio da habitação de seu Santo Espírito, é o intérprete visível da revelação. Por isso, as virtudes cristãs, também chamadas de “o fruto do Espírito” (Gl 5.22), só podem ser vivenciadas, cultivadas e ampliadas no relacionamento entre os irmãos de modo frequente e físico por meio desse corpo divino.
Mark Dever e Paul Alexander apresentaram com clareza qual é o status da igreja:
“Deus tenciona que a igreja local seja uma demonstração corporativa de sua glória e sabedoria, tanto para os incrédulos como para os poderes espirituais invisíveis (Jo 13.34-35; Ef 3.10-11). Em termos mais específicos, somos corporativamente o lugar em que o Espírito Santo de Deus habita (Ef 2.19-22; 1Co 3.16-17), o corpo orgânico de Cristo, no qual ele exalta a sua glória (At 9.4; 1Co 12).”
Portanto, a igreja cristã justifica a sua existência no mundo por ter sido escolhida por Deus para exercer o ministério da exaltação, tornando mais nítida e perceptível a glória de Cristo no mundo. A igreja não é uma empresa, não é um clube social beneficente, não é um resort espiritual para os finais de semana, nem mesmo um refúgio para pessoas que querem fugir do mundo, amedrontadas pelos ataques à sua fé individual. A igreja existe para revelar escancaradamente o caráter de Deus na pessoa e obra de Jesus Cristo por meio da genuína pregação do seu evangelho.
A Confissão Belga declara: “Essa igreja existe desde o princípio do mundo e existirá até o fim, o que é evidente do fato de que Cristo é um rei eterno, o que, sem súditos ele não o pode ser. Essa santa igreja é preservada e mantida por Deus contra o furor do mundo inteiro, mesmo que ela, às vezes, (por algum tempo), aparente ser muito pequena e, na opinião dos homens, reduzida a nada, como durante o perigoso reinado de Acabe, quando, no entanto, Deus guardou para si sete mil homens que não tinham dobrado os joelhos a Baal.”
Todas as ações da igreja devem estar direcionadas para aquilo que é ordenado por Deus em sua Palavra e que resultará na visibilidade de sua glória. A igreja não pode jamais silenciar-se, omitindo-se de sua mais importante tarefa. Ela é a voz audível de Deus para o mundo corrompido. Não apenas os indivíduos são chamados para testemunhar, mas também o corpo coletivamente.
É no corpo de Cristo que Deus torna a sua verdade mais cristalina e poderosa. Por isso, a igreja é chamada por Paulo de “coluna e baluarte da verdade” (1Tm 3.15). A palavra usada por Paulo para “baluarte” (?d?a??µa – hedraioma) indica algo tão firme e permanente quanto o trono de Deus (Sl 92.2) e estabelece a ideia de que a igreja é um terreno seguro que deve proteger os cristãos contra as falsificações da verdade. Alexander Strauch destacou que “proteger o rebanho também inclui a procura de ovelhas perdidas, desgarradas – um aspecto crítico do pastoreio que muitos pastores de igreja negligenciam totalmente. Além disso, proteger o rebanho envolve a disciplina do pecado, admoestar comportamento inapropriado e atitudes repreensíveis (1Ts 5.12)”.