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O exercício da disciplina mútua

Publicado em 24/01/2024 às 19:00.

O cuidado do corpo cabe a cada um de seus membros, não apenas de parte dele. Assim se vê no corpo humano: se há uma infecção evidente, o corpo todo começa a reagir. Há dores, febre, abatimento, prostração e, se não houver cuidado e tratamento, essa infecção pode levar à morte todo o corpo. Assim também é na vida espiritual. Se há uma infecção pecaminosa no meio da igreja – que é o corpo – haverá dores, febre, abatimento, prostração e, se não houver disciplina, essa infecção levará a igreja à morte.

A morte de igrejas locais não é algo incomum. É possível ocorrer, se não houver um compromisso sério de disciplina interna, praticada pelos próprios membros, cuidando uns dos outros. A igreja de Laodiceia, como está descrito em Apocalipse, estava morta. Ela tinha apenas nome de “igreja viva”, mas, aos olhos de Deus, o justo Juiz, estava completamente morta, como muita gente hoje: tem nome de que está vivo, mas está morto. E a morte da igreja de Laodiceia se deu em razão do descuido com pecados que foram penetrando nela e não foram tratados. Das sete igrejas do Apocalipse, Laodiceia é a única que não recebe nenhum elogio da parte do Senhor. Mas ela não morreu a partir do nada, morreu porque os seus membros eram mortos.

É lamentável o fato de que o pecado tem assolado tantas igrejas hoje e muitos que se dizem cristãos são os primeiros a caírem e a envergonharem o nome de Deus. Talvez, os cristãos que confessam a autoridade suprema das Escrituras deveriam ser os primeiros a obedecer a ela com total esmero. Mas, o que se percebe é que, muitas pessoas, embora discursem que a Bíblia é para elas a Palavra de Deus, vivem como se não fosse. Elas não leem as Escrituras, não meditam nelas, nem sequer a usam para confrontar alguns posicionamentos. São relegadas a um plano inferior e o que se vê, na prática, é o esquecimento total de seus preceitos.

Em muitos púlpitos, inclusive, não se prega a verdadeira Palavra. Ouve-se de tudo, desde posições pessoais e casos de si mesmo, experiências, até discursos éticos ou políticos e teorias de autoajuda, uma espécie de teologia coaching. A verdadeira igreja não está imune ao pecado e os seus membros também não estão. Por isso, é necessário vigilância constante e pastoreio mútuo, a fim de evitarmos perdas espirituais definitivas. 

Além disso, existe uma clara hostilidade do mundo contra a igreja. E essa agressividade do mundo e de sua cultura contra a igreja faz com que muitos cristãos se escondam dentro de suas igrejas ou, até pior, admitam duas personalidades: aquela vivida na igreja e outra completamente diferente vivenciada fora da igreja. Aqueles que são ridicularizados em sua fé dentro do seu trabalho, nas universidades, nas rodas de conversa se sentem totalmente despreparados para enfrentar o desafio de defender o evangelho de Jesus Cristo (1Pe 3.15) ou então se adaptam às rodas de blasfêmias dos ímpios (Sl 1.1).

Infelizmente, muitos cristãos não creem na força do poder de Deus por meio do evangelho de Jesus Cristo e temem excessivamente Satanás e o mundo. Por isso, os discursos religiosos tornam-se pouco aplicáveis e se mostram apenas como catarses psicológicas ou como mantras transcendentais, cujo objetivo é tirar a pessoa da realidade e transportá-la, como alguns críticos apontam, para um mundo de ilusões e projeções. 

Não é à toa que alguns pensadores, como Ludwig Feuerbach, Friedrich Nietzsche, Karl Marx, Jean-Paul Sartre dentre outros, criticam severamente a prática cristã por considerá-la pouco efetiva. Boa parte deles denunciou o distanciamento entre a teoria e a prática de alguns crentes. Eu compreendo que a visão deles estava distorcida e não quero tomá-las aqui como se a crítica deles aos cristãos fosse sempre verdadeira e justa. Em sua maioria, não era. Eles foram injustos, porque a visão que eles tinham era distorcida. Isso fica muito claro em Nietzsche, por exemplo, na discussão que ele faz da compaixão cristã. Mas o que quero ponderar é que, infelizmente, nós cristãos, em algumas situações, oferecemos motivos ao mundo para sermos criticados e, com a nossa prática distanciada de nossa confissão, envergonhamos o nome de Cristo e precisamos cuidar disso (Is 52.5; Ez 36.20; Sl 69.6-7; Rm 2.24 ).

Crer com a boca, mas não professar com o coração, é inútil diante de Deus e diante dos homens. Cristianismo ortodoxo sem uma vida cristã piedosa é tão mortal quanto a própria impiedade. Não adianta eu ser ortodoxo, conservador, calvinista, reformado, presbiteriano, se eu não sofrer como testemunha de Cristo fora das portas da igreja (Hb 13.12-13). Muitas vezes, nossa ortodoxia é usada contra nós mesmos em razão de negarmos o próprio Cristo por meio de nosso zelo anticristão, e “é algo monstruoso que aqueles cuja glória deriva de Deus sejam veículos de profanação para o seu santo nome”.

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