Todavia, por outro lado, Paulo também demonstrou humildade ao desejar se submeter ao corpo de apóstolos, no sentido de permitir que eles fossem confrontados pelo evangelho e chegassem a uma conclusão correta. O versículo dois nos mostra isso: Paulo tratou da questão controversa em “particular” com aqueles que poderiam, de fato, resolver o problema. Ele foi sábio e não publicou a controvérsia aos membros das igrejas, mas às autoridades que poderiam chegar a uma conclusão segura, como de fato aconteceu.
A preocupação evidente de Paulo era de garantir que o entendimento da base verdadeira do evangelho fosse vista por todas as autoridades, aqueles que ensinam, porque, é por meio deles, que os membros das igrejas são alimentados nas Escrituras. Se o corpo doutrinário estivesse dividido, certamente as igrejas se dividiriam também. Afinal, não se tratava de qualquer entendimento, mas da essência do evangelho. Alguns queriam somar ao sacrifício de Cristo na cruz algo mais; enquanto Paulo, Barnabé, Tito e alguns outros insistiam que o evangelho da graça é “somente pela graça” e nada mais.
João Calvino, ao estudar essa passagem, concluiu: “A verdade de Deus não precisa da aprovação de seres humanos para ser bem-sucedida. O ministério da Palavra é inútil, se aqueles que o ouvem tiverem consciência fraca e hesitante... os falsos apóstolos possuíam uma arma poderosa para causar insegurança entre os fracos, quando acusaram Paulo de pregar coisas contrárias à doutrina dos apóstolos... A certeza da fé não depende do acordo de outras pessoas, mas para os ignorantes e vacilantes é difícil mantê-la quando veem seus mestres eminentes em desacordo entre si... Às vezes, Satanás causa insegurança até mesmo entre crentes fortes, mostrando-lhes conflitos e divisões entre aqueles que deveriam falar a uma só voz... O acordo entre todos os mestres é uma ajuda poderosa na confirmação de nossa fé. Uma vez que Satanás estava tentando impedir o avanço do evangelho, Paulo resolveu desafiá-lo diretamente”.
E estas coisas ainda acontecem hoje: várias vozes, vários ensinos, confusão, conflito, divisão entre os mestres que causam o enfraquecimento e a insegurança da fé nos crentes.
Há muitos que ainda temem perder a salvação em razão de algum pecado que cometa. Não é raro vermos crentes inseguros quanto à certeza da salvação em Cristo Jesus. Há quem pense que pecados específicos podem mandá-lo para o inferno, ainda que ele seja um crente convicto da aplicação de graça de Deus. O raciocínio de muitos ainda é: “Pequei... e agora... não tenho perdão...”. Estes ignoram, completamente, a graça salvadora de Jesus Cristo.
Significa que tenhamos liberdade para pecar? Obviamente, não. Escrevendo aos Romanos, Paulo argumentou: “Pecaremos mais a fim de que a graça aumente?” (Rm 6.1). Claro que não. O próprio Paulo mostra, adiante, que aquele que crê na graça completa de Cristo ele não pecará como escravo do pecado. Em outras palavras, ele não se tornará serviçal de um pecado específico. Ele poderá ser tentado, poderá cair, pecar... mas ele não ficará prostrado.
O simbolismo do pecado de Davi é muito instrutivo para nós. Após o pecado com Bate-Seba e o seu arrependimento, Davi mostrou-se totalmente arrependido. Ele viu sua condição de pecador e sua estrutura pecaminosa. “Nasci em pecado”, ele disse. “Não sou digno de ti”, afirmou. “O meu pecado sempre me persegue”, concluiu. Davi sabia de sua estrutura pecaminosa (Sl 51).
Todavia, após o arrependimento, ele não permaneceu prostrado. Ele se ergueu.
Enquanto a criança ainda estava viva, jejuei e chorei. Eu pensava: Quem sabe? Talvez o Senhor tenha misericórdia de mim e deixe a criança viver. Mas agora que ela morreu, por que deveria jejuar? Poderia eu trazê-la de volta à vida? Eu irei até ela, mas ela não voltará para mim. Depois Davi consolou sua mulher Bate-Seba e deitou-se com ela, e ela teve um menino, a quem Davi deu o nome de Salomão (2Sm 12.22,23).
E todos nós sabemos quem foi Salomão. A questão é: Deus perdoou o pecado de Davi e concedeu a ele outro filho que se tornou uma grande bênção para o povo.
A questão moderna é: se alguém comete algum pecado e lida com as consequências dele, ela deverá saber o momento de superar isso com a graça de Deus.
Digamos que uma moça se engravide antes do casamento. Ela deverá reconhecer o seu erro por não ter esperado o momento adequado. Mas, após ter reconhecido, recebido o perdão, de ter nascido o filho, essa jovem não poderá nem deverá carregar culpa de pecado. A graça é infinitamente maior que qualquer pecado. Sim, do que qualquer pecado.
O que Paulo argumenta, portanto, com os gálatas é que a graça de Cristo na cruz do calvário, o pagamento da exigência da justiça de Deus é maior, infinitamente maior e incomparável do que qualquer pecado que possamos cometer. A única exceção que as Escrituras apresentam é blasfemar contra o Espírito Santo – que é: não aceitar o testemunho do Espírito para conversão.