O poeta cantor brasileiro João Alexander escreveu uma música que reflete algo muito próximo do que o apóstolo Paulo escreveu nesses versículos do capítulo 2 de Gálatas. João expressou a realidade da religião evangélica brasileira, de um evangelho aprisionado e contido por mãos de homens. Um evangelho que não é o de Cristo, mas o de homens.
Paulo escancarou à nossa vista, na Epístola aos Gálatas, homens que criam, por meio de tradições e aparências de verdade e sabedoria, verdadeiros e reais cativeiros que levam as pessoas à prisão de uma religião falsificada. Pregam um evangelho meritocrático, no qual as pessoas são obrigadas a “fazer algo” a fim de conquistarem a salvação. Anunciam também um evangelho que oprime as pessoas. Pregam um tipo de evangelho que escraviza, que desumaniza, que faz com que o evangelho se pareça mais uma seita cristã do que, propriamente e como de fato é, o evangelho da graça e do perdão.
O poeta João Alexandre escreveu assim:
“Ali é o lugar ideal pra quem quiser se esconder e ser mais um na multidão. Ali é onde os homens se abraçam mas na hora de pagar o preço, lavam as mãos. Ali é onde todos se encontram mas acabam se perdendo por achar que são invencíveis. Ali não há lugar pra tristeza, pra angústia, pra dor ou pra gemidos inexprimíveis. Deus não habita mais em templos feitos por mãos de homens. Deus não será jamais acorrentado às paredes de uma religião. Deus não habita mais em templos feitos por mãos de homens. Deus não será jamais enclausurado na escuridão de quem ainda tem um coração de pedra. Ali ninguém conhece a essência, tão somente a aparência de viver em comunhão. Ali é onde os loucos se entendem, onde os sábios se prendem ao valor da tradição. Um falso paraíso presente, um fanatismo distante, um cristianismo sem direção. Ali é onde todos proíbem, onde todos permitem, onde são assim, nem “SIM” nem “NÃO”. Que vença, mesmo que haja desavença, todo aquele que repensa na crença da onipresença de Deus. Sejamos coerentes, tr
ansparentes, reluzentes, conscientes, todos crentes que somos os filhos seus. Na rua, no trabalho, na escola, na loja, na padaria, no posto, na rodovia, na congregação. Que haja em nós o mesmo sentimento: que Deus habite em nosso coração!” (Coração de Pedra, João Alexandre).
O apóstolo Paulo também se preocupou com o “coração de pedra” dos crentes da Galácia. Eles estavam voltando ao judaísmo exigindo que os novos crentes passassem novamente pelos rituais religiosos de circuncisão, guarda de dias e anos sagrados e a dieta alimentar.
Na primeira parte do capítulo 2, de que estamos tratando, Paulo prossegue seu objetivo de desconstruir a mentira inventada pelos falsos pregadores desse evangelho falso. A mentira de que os crentes recém-convertidos deveriam observar a tradição judaica. Não! Absolutamente, não! Argumentou Paulo. O cristão não é judeu e, portanto, não precisa obedecer a nenhum tipo de cerimonial. Nenhum, pois Cristo já cumpriu tudo – absolutamente tudo – na cruz do calvário.
Ao morrer na cruz, Cristo pagou toda a exigência da lei, de modo que não precisamos mais nos submeter a nenhum ritual religioso, a nenhuma regra humana – no que se refere a espiritualidade –, a não ser nos descansarmos no sacrifício de Cristo Jesus na cruz sangrenta e infame.
Paulo inicia o capítulo dois contando a história de ter participado de um concílio, no qual se reuniram as principais autoridades religiosas da época, dentre elas Barnabé. As Escrituras dão testemunho de Barnabé. Ele era um homem íntegro, cheio do Espírito Santo, companheiro de Paulo em muitas situações, inclusive no momento da conversão do apóstolo, em que ele, Barnabé, foi quem conduziu Paulo à presença dos apóstolos a fim de testemunhar sobre a conversão maravilhosa ocorrida.
Barnabé era um crente de verdade. Ele não desconfiava do poder de Deus e testemunhou da conversão de Paulo como um milagre. Em Atos 4.36, lemos que o seu nome significa “encorajador” ou “filho da exortação e do encorajamento”. Barnabé era isso mesmo: um homem que teve a coragem de admitir Paulo – antes perseguidor da Igreja – ao corpo dos apóstolos e dos pregadores do genuíno evangelho. Pois é esse Barnabé que Paulo leva consigo a fim de servir como testemunha do verdadeiro evangelho pregado por ele.
Paulo levou, também, consigo o jovem Tito, que não era judeu e que, portanto, não era circuncidado. Era uma maneira de Paulo mostrar, por meio de Tito, e com o testemunho de Barnabé, a possibilidade real de uma pessoa ser convertida ao cristianismo sem ter de obedecer aos requerimentos de uma religião específica, no caso do judaísmo.
Continua...