Sabemos que não existem explicações materiais ou filosóficas para a existência de anjos. A crença em anjos pertence a uma esfera estritamente religiosa e revelacional, muito embora filósofos importantes como Leibniz, Wolff, Schleiermacher e Kant tenham admitido uma vida transcendente, fora do mundo material, ou uma espécie de ambiente espiritual para compensar a quantidade de mundo material existente.
Todavia, para se crer em anjos, é necessário crer numa revelação espiritual que transcende toda e qualquer dimensão material. Ao admitirmos a existência de Deus, milagres, salvação, encarnação de Cristo e ressurreição, nós devemos admitir também que existe espaço para a existência de seres espirituais, que não podemos ver com os nossos sentidos, mas podemos experimentar por meio deles.
Para nós, cristãos, os argumentos da Escritura sobre a existência de anjos é fundamental e coerente. Em outras religiões, como no espiritismo, por exemplo, os seres celestiais ocupam um lugar de quase competição com Deus, dividindo espaço de autoridade e poder. No Cristianismo bíblico, não. Deus permanece sendo Deus em toda sua autoridade e poder e tem os seres celestiais como assistentes de seu governo. Os anjos trabalham e servem a Deus no Cristianismo.
Nas Escrituras, os anjos são servos do Deus vivo. O próprio Senhor Jesus Cristo admitiu repetidamente a crença neles, como na Parábola do Semeador, ao afirmar: “O inimigo, que o semeou, é o diabo; e a ceifa é o fim do mundo; e os ceifeiros são os anjos.” (Mt 13.39).
No Antigo Testamento, a palavra que indica anjos é mal’ak, que traduzimos por “mensageiro”, “enviado”, significando também um ser humano enviado por outros seres humanos (Jó 1.14) ou enviado por Deus (Ag 1.13).
No Novo Testamento, da mesma forma, a palavra é angelos, que aponta para seres humanos enviados por outros, como mensageiros (Mt 11.10; Mc 1.12 etc).
A Bíblia menciona tipos e classes distintas de anjos, cada uma recebendo um nome próprio. Existem os querubins, protetores do Jardim do Éden (Gn 3.14), representados pelas asas que sobrem o trono de Deus (Êx 25.18 ss.). Quando Deus vem à Terra, ele desce em um Querubim (2Sm 22.11). São os assistentes diretos de Deus, seus guardas e protetores do Reino. Uma espécie de esquadrão de elite da guarda celestial.
Em Isaías 6, lemos sobre os serafins, da raiz árabe sarufa, que significa nobre. São aqueles que trabalham aos pés do trono, como diáconos, servindo ao Rei e ao seu Reino. Eles aclamam a glória de Deus e anunciam a sua entrada triunfal. Os serafins são os mais nobres e os querubins os mais poderosos.
Há também os anjos que aparecem com nomes próprios para missões específicas, como Gabriel e Miguel. O anjo Gabriel aparece em Lucas 1.19,26, na ocasião muito especial na gestação de João Batista. Ele afirmou ser aquele que “assiste diante de Deus”. Apareceu também para anunciar o nascimento de Jesus Cristo a Maria. O anjo Miguel apareceu em Judas 9, contendendo pelo corpo de Moisés, e em uma referência de uma batalha no céu contra o dragão (Ap 12.7). Miguel coordenou os anjos que derrotaram o grande dragão, a antiga serpente, o diabo.
Vemos, portanto, que os anjos são especialmente poderosos e servem a Deus para coordenar, liderar e dirimir batalhas contra o Reino de Deus. Eles vencem as batalhas pelo poder e autoridade dados por Deus a eles. São ministros do Senhor para governarem o mundo e servirem de amparo aos filhos de Deus. A Bíblia se refere a esse exército como milícia celestial (Lc 2.13), legiões (Mt 26.53), domínios (EF 1.21), tronos (Cl 1.16), potestades e principados (Ef 3.10) e poderes (1Pe 3.22).
Assim como os seres humanos, as Escrituras dizem que os anjos são seres pessoais, racionais e morais; ambos criados com justiça e santidade, conhecimento e imortalidade; receberam o domínio sobre todas as coisas e são bem-aventurados. Mas há também diferenças entre homens e anjos.
Os homens receberam de Deus a autoridade para serem mestres de governo sobre a Terra, os anjos não; os homens possuem vínculos de sangue em suas famílias, os anjos não; os homens possuem uma essência unificadora, a humanidade, os anjos não; os homens são psicológica e mentalmente mais profundos e ricos que os anjos, em razão dos relacionamentos profundos com Deus e com os próximos, os anjos são limitados nisso; os homens têm uma relação específica com Jesus Cristo, de ser ele o seu Redentor, Reconciliador e Salvador, com os anjos não.
Por isso, acima de anjos e homens está Jesus Cristo, o Senhor, a quem Deus fez herdeiro de todas as coisas e pelo qual governa absolutamente o Universo.
